Conto. conto do amor

a verdade nunca pesa

 


 

 

Qual amor? Isso é fantasia, um delírio humano.

Era normal que eu pensasse assim, pois tinha acabado de ser chutado por a mulher que se lembrou que passados 10 anos eu afinal tinha sido um erro, um engano de casting. Mas o pior foi quando me disse que o amor acabara! Fiquei verdadeiramente estarrecido. Perguntei-lhe porque só agora mo dizia, fazendo-me acreditar que tudo estava como sempre havia estado, em paz. Não Henrique. Trata-se duma coisa minha, talvez cansaço, disse-me chorando. Não devia ser eu a chorar? Acho que as posições estão invertidas, comentei. Não é isso, é porque eu apesar de tudo vou sentir saudades tuas! Filha da pputa pensei de súbito. Saudades de quê? Saudades de me veres desesperado e sem norte? Eu levei um soco no estômago! Perdão, não dá mais rematou a porta de casa. Esse foi o último dia em muitas semanas que a vi. Rita era uma bem-sucedida apresentadora de televisão, muito badalada nos meios de comunicação social. Excelente pivô e uma das mulheres mais bonitas do meio. Sua foto estava quase sempre estampada nas revistas da especialidade. Doeu muito, doeu mesmo muito. Foi tão inesperado como doloroso, nada fazia prever que dum momento para o outro, num estalar de dedos quisesse o divórcio. Mas o que podia fazer, não a podia obrigar a ficar. Se essa era sua vontade, tudo bem. Contudo, ficou para atrás um coração que a amava mais que tudo. Orgulhava-me dela. Fazia de tudo para que só se preocupasse com sua profissão. Foi com sua decisão que tive de viver, ou melhor, sobreviver. Sem filhos, pois Rita nunca os quis, tive de me aguentar e ir em frente. Jurei para mim mesmo que jamais amaria outra mulher. Jamais me casaria de novo. Amor para eu partir daquele instante estaria posto de lado. Não foi nada fácil esquecer-me de Rita, a mulher que partilhei 10 anos da minha vida, rechiada de momentos lindos. Naveguei por muito tempo no caldo efervescente da dor mais castigadora: A saudade. Porém, não me podia deixar definhar, facto que quase aconteceu. A própria televisão que gostava de assistir na sala, nunca mais a liguei. Tudo que me fizesse lembrar Rita tentei apagar de casa. Não porque a odiasse, isso não, bem pelo contrário, mas em meu benefício. Caramba, pensei um dia: Rapaz! És um homem financeiramente robusto. Um quarentão giro. Dá uma sacudidela no marasmo e faz-te a vida! Ora, ainda fazia contas a vida percorridos seis meses depois de Rita ter decidido que eu não fazia mais parte de sua vida. Sendo assim, porque me deixei afundar em desgostos? Levanta-te cabrão disse a mim mesmo. Existem milhões de raparigas bonitas a tua espera! Foi desta forma um quanto ao tanto titubeante que comecei a me erguer das cinzas qual fénix.

Não foi nada fácil retomar, contudo, teria de gerir o meu negócio, pois meu nome na praça teria de ser preservado. Sei que ser marido de Rita fez-me muito mais conhecido. Não nego. Mas bolas, era um bom profissional mesmo sendo casado com a afamada Rita Tavares. A vida fez-me psicólogo, no entanto precisei consultar um colega. Como o povo dizia: Em casa de ferreiro, chupeto de pau! Por vezes nos momentos de solidão, gostamos sempre de fazer uma retrospetiva, contudo a vida e as suas circunstâncias são tão díspares de pessoa para pessoa que acabamos inevitavelmente por retirar muito pouco. Tinha a firme percepção que Rita abdicara da família em detrimento da profissão. São escolhas que se fazem, bem ou mal temos de aceitar. Restava-me prosseguir com minha vida. Mais depressa do que julgava, consegui afastar o fantasma Rita, seguindo com meu trabalho. Estava-me reservado um acontecimento verdadeiramente incomum. Tudo se sucedeu nas minhas férias para os lados do algarve numa das ruas mais concorridas de Portimão onde se ouve falar mais inglês do que Português. Havia nessa dita rua várias barracas de comes e bebes e algumas de venda de bijuteria. Havia acabado de jantar, lembrei-me de espreitar uma dessas barracas. Estava eu a observar pulseiras de couro quando levantei os olhos para perguntar algo sobre as mesmas, dei de caras com os olhos verdes mais lindos que jamais havia visto. Todo o meu corpo arrepiou-se. Além daqueles olhos lindos, a moça cigana toda ela era harmonia. Seus longos cabelos loiros, os traços de seu rosto, diria: terem sido esculpidos por anjos, seu corpo sem um milímetro desalinhado, seu sorriso radiante, deixou-me atónito e sem fala. Moço, quer levar o quê, perguntou-me meigamente. Fiquei por segundos de olhos nela. Moço, o que quer levar, repetiu. Posso levar seu sorriso? A ciganinha olhou-me bem nos olhos e respondeu: As vezes um sorriso oculta um rio de lágrimas, disse-me virando-me as costas para atender outro presumível cliente. Fiquei a pensar na sua resposta. Por detrás dela segundo minha breve interpretação, senti em sua voz muita melancolia. Comprei-lhe várias bijutarias só para o olhar de perto. Meu Deus, era perfeita. Sabia que a etniacigana seguia a risca tradições que para muitos diria-ser ultrapassada, mas que era a deles, quem era eu para modificar uma tradição milenar. Faltavam-me mais 7 dias de férias. 7 Dias que seriam vividos a procura dos olhos verdes e do sorriso mais fabuloso de todo o universo e arredores. Naturalmente e, não poderia ser doutra forma, busquei encontrá-los. Tinha reparado que ainda não se havia esposado, facto que muito me admirou. Seria uma resistente a tradição? Reparei ainda que havia um homem de grandes barbas negras, casaco preto e que a olhava a todo o instante. Provavelmente o pai, pensei. Como era presença assídua junto de Morgana, era esse o seu nome, o homem com cara de poucos amigos começou a perceber certamente que eu não parava de mirar Morgana. Tens mais clientes para atender, disse-lhe certa noite. Morgana limitou-se a baixar a cabeça e obedecer. Os olhos negros do homem quase me comiam, porém sem me assustar. Mesmo que quisesse me afastar, volta e meia lá estava. Por sorte tive a oportunidade de lhe falar a sós.

Diz-me uma coisa Morgana, porque acho que teu coração me pede alguma coisa? Estarei errado? Acabando de falar, de imediato soltou-se várias lágrimas dos seus lindos olhos. Preciso fugir desta vida, murmurou baixando a cabeça. Vivo no pior dos infernos, murmurou. Por favor ajude-me a sair deste inferno. Não quero ser mais uma entre tantas que se submetem aos desígnios dos homens da etnia. Agora vá embora mas mas antes diga-me onde vive. Hotel Luz da Falésia disse-lhe pois percebeu de súbito que o homem devia estar perto a julgar pelo seu olhar amedrontado. Dito e feito. Senti uma mão no ombro e quando me virei, meu rosto bateu nas longas barbas negras do vigoroso homem. Oiça moço, nunca mexa com uma mulher cigana, ouviu? Ora, nunca tinha sido homem de grandes sustos, muito menos vindo de alguém que já não gostava só de imaginar que ele mal tratava tão linda mulher. Está a falar de Morgana? Sabia que ela é uma mulher linda de morrer? Isso, você falou a palavra certa, de morrer. Portanto moço, não tenha ideias que o podem prejudicar no futuro. Oiça moço, imitei-o. Você é pai, dono, marido, capataz, afinal, o que você é na verdade a ela? Sou acima de tudo seu protector. Protege-a de quê ou de quem? De gente atrevida como tu, respondeu-me de voz embargada pela raiva. De repente abriu seu casaco negro e deu para ver uma faca no bolso interior. Mata porcos? Mato todos aqueles que se meterem com Morgana. Ela pertence-me e ninguém me a pode tirar. O casamento é dentro de uma semana. Ok, parece-me que não me quer convidar pois não? O homem enfureceu-se e encostando o nariz ao meu rematou: Cabrone, tu mereces uma faca no bucho! Davi não, gritou Morgana. Por alguns instantes diversas pessoas aperceberam-se do clima e juntaram-se. O cigano barbudo apertou seu casaco e dirigindo-se as pessoas, bradou: Não passa nada senhores, por favor comprem, produtos muito bons! Fiquei tal qual como estava, sereno, porém consciente do que me poderia ter sucedido. Senti que ele não estava minimamente a brincar. Contudo, desde que me conhecia sempre gostei de sentir a adrenalina que o perigo me proporcionava. Panca ou não, eu era assim. Claro que não vivia desafiando quem quer que seja, mas era muito seguro de mim. Não obstante ter esse pequeno defeito, pois tinha esse entendimento, não desistiria de Morgana, pra mais depois de me pedir ajuda. Fiquei pelas cercanias até tudo fechar como mo pedira Morgana. Eram mais ou menos duas da madrugada quando meu telefone do quarto tocou. Sim, atendi. Senhor Pedro Ramos? Sim diga, retroquei. Tenho aqui na recepção uma senhora que diz conhecê-lo. Morgana, só poderia ser. Vesti-me em segundos e desci até lá. Estava certo. Morgana fugira mesmo do grandalhão. Mal me avistou correu para mim e abraçou-se apertando-me com muita força. Seu corpo junto ao meu quase me tirou o fôlego. Mas não era hora de grandes análises, tinha de a ajudar e isso teria de ser feito com muita urgência, pois não tardava teríamos o clã a perna. Levei-a para meu quarto e em pouco tempo, depois de pagar tudo o que estava acordado com o hotel, coloquei-me ao caminho com a cigana mais linda do mundo. Foi com naturalidade que esperei que chorasse para depois conversarmos. Entretanto fui pensando onde esconde-la e no que me poderia fazer se os ciganos me batessem a porta. Ora, depois de desabafar, Morgana relatou-me algumas coisas da sua vida e a razão para qual quis fugir. Como esperado. Foi prometida desde o berço a um dos ciganos mais ricos do clã, homem muito respeitado.   Eu resisti até onde consegui, declarou-me. Por esta altura já devia estar esposada e com meia dúzia de filhos a minha beira, confessou. Só cheguei a idade de 25 porque Davi aceitou um pedido meu. Pedi-lhe que só me gostaria de casar aos 25 anos. Foi uma forma que serviu somente para ganhar tempo e tentar uma fuga. Sempre me senti diferente das outras que na sua maioria aceitam um homem que só lhes tocava na hora do casório. Estudei até ao décimo segundo e as escondidas tirei um curso por correspondência de marketing e publicidade. Realmente achei-te com uma linguagem muito mais refinada, disse-lhe.   Durante a viagem ela preveniu-me que Davi e sua família a procurariam por todo o lado. São pessoas muito violentas, vivem praticamente a margem da lei vigente. Não haverá problema, disse-lhe. Tenho uma casa de campo onde ficarás segura. Não quero estar em Portugal muito tempo, peço desculpa, afirmou. Tenho a certeza que eles me vão encontrar num instantinho.  Apesar dos seus avisos, convenci-a a se estabelecer na casinha bem no alto da serra. Com o intuito de a tranquilizar disse-lhe que passaria uns tempos com ela. Morgana foi perdendo o medo, foi-se adaptando a serra, gostando de mim, essa sim a parte melhor, acabando por ficar. Sempre pela tardinha, juntos gostávamos de passear e ver o por do sol. Foi num desses passeios que trocamos o primeiro beijo mas nada mais além disso. Morgana era virgem e queria ter a certeza de qual o homem se entregaria pela primeira vez. Rita foi totalmente esquecida. Tornou-se uma mera recordação. Quanto a Morgana, cada vez mais vinha me conquistando. Não pela beleza, essa de certeza, mas pela maneira de ser. Deixou de lado as saias compridas e blusas sem decotes, passando a usar grandes decotes, calças apertadas que reflectiam toda a magnificência do seu corpo a altura já tão desejado por mim. O cenário era idílico. Sentia-me como fosse o único homem no mundo, acompanhado     pela deusa que o havia colorido. Nossa cumplicidade tornou-se quase palpável, a qualquer momento nós nos fundiríamos numa só carne. Que melhor lugar poderia haver para fazer amor do que ter uma cama de erva estufada e ser iluminado por do sol. Morgana finalmente   se entregou, eu sentia-me o homem mais sortudo do universo. Foi com o cuidado que sua condição requeria que fizemos amor. Amamo-nos várias vezes até nossos corpos cederem ao cansaço deixando-se adormecer debaixo do manto estrelado   e acompanhados pelos sons da natureza. Contudo, havia uma vida bem díspar da ideal e que nos esperava. Era a hora de tomar novas decisões. Nesse sentido, resolvemos nos casarmos na aldeola bem no sopé da montanha. Jantamos fora e passamos a lua-de-mel num hotel na vila vizinha. Pensei em me mudar para o estrangeiro, mas logo coloquei de parte essa ideia, meu nome estava muito enraizado, tinha muitos clientes que dependiam de mim.

Não obstante estar a viver um conto de fadas, havia pessoas que se preocupavam comigo. Minha família já até tinha recorrido a polícia com o intuito de saber de mim. Nunca fui um homem muito próximo da família, contudo percebi que suas preocupações eram mais que compreensíveis. Então eu e Morgana resolvemos que já estava na hora de fugirmos, entendemos enfrentar o mundo em geral e algumas pessoas em particular, afinal, vivíamos ou não num país com regras? Embora os alvitres de Morgana fossem claros, mesmo assim quis ficar do meu lado. Faria dela minha secretária, meu braço direito no meu consultório. Decidimos e executamos a preceito. Depois de tranquilizar minha família, depois de nos estabelecermos noutra casa nos arredores de Lisboa, vendi a antiga e demos início a uma vida matrimonial. Estava encantado da vida. Amava Morgana com todo o meu ser e com todas as minhas forças. Libertei-a das malhas duma tradição sem sentido e que sacrifica muitas jovens aos desejos de gente que segue a risca tradições ancestrais na sua maioria só para serem distinguidos dos demais. São mulheres, vidas que são subjugadas sem que se olhe a componente feminina, seus anseios, desejos, ambições, autodeterminação. Para minha felicidade e de Morgana, a sorte bateu-nos a porta. Passaram-se cinco anos, cinco anos de verdadeira felicidade até o dia que minha vida sofreu um duro e doloroso revés. Acordamos depois de mais uma noite de grande cumplicidade amorosa e como fazíamos sempre espreitamos pela janela da casa de férias mesmo defronto ao mar. Estávamos a escaços 100 metros da praia, era um local paradisíaco. Tudo era perfeito, como perfeita era a mulher que tive a fortuna de encontrar perdida por detrás dum balcão duma barraca algures no algarve. Contudo, quis o destino que pela tardinha quase noite, fôssemos surpreendidos por algo verdadeiramente terrível. Como era sempre nosso costume, passeávamos junto ao mar, molhando os pés nas águas do oceano esperando o sol mergulhar no horizonte. Após mais uma tarde noite cheia de beijos e juras de amor eterno, reparamos que não muito distante donde estávamos, avistamos um corpo semienterrado no areal. Nem pensamos em mais nada. Corremos para o ajudar, pois estava inerte. Ao chegarmos a sua beira, para nossa pouca sorte, ergueu-se rápido como um raio e ficou em nossa frente rindo-se desalmadamente. Davi, gritou Morgana. B Boa noite cumprimentou-nos segurando na mão direita uma grande faca. Coloquei-me de súbito na frente de Morgana. Davi sem perder tempo, com extrema rapidez, atingiu-me num braço fazendo-me gritar de dor. Enquanto Davi infligia-me vários golpes, um deles quase fatal, ainda ouvi Morgana gritar para que parasse, ela iria com ele. Não me serves para mais nada, disse-lhe golpeando-a no tórax fazendo a tombar de pronto. Foi as últimas imagens que tive de Morgana até abrir os olhos novamente na cama dum hospital. A primeira pessoa que me visitou foi Rita, extremamente emocionada. Não era para mais, tinha estado dois meses de coma e com poucas chances de sobreviver aos profundos golpes que a faca de Davi me havia infligido. Minha primeira pergunta foi: Onde está Morgana? Infelizmente meu lindo ninguém sabe. Ficou para recordação só o sutiã manchado de sangue, esclareceu-me Rita. Passaram-se dois meses e ninguém viu pelo menos o corpo, perguntei. Não meu lindo, declarou Rita. Ninguém sabe dela nem do bandido que vos fez tamanha barbaridade, acrescentou. O tempo de convalescença durou quase um ano até me sentir completamente recuperado, no que o corpo dizia respeito. Quanto a parte mental, bem, piorava dia após dia. Foram muitos anos de amargura, duma tristeza tão cáustica que me consumia pouco a pouco. Tornei-me uma sombra do homem que tinha sido. Desinteressei-me por tudo. Tudo me era fútil demais, nada me alegrava, vivia numa constante depressão. Não havia antidepressivo que atenuasse a permanente dor que sentia. As saudades de Morgana, seu rosto, sua voz, sua maneira de ser, tudo me faziam viver, somente viver. Foi com isso que tive de me acostumar. Foi com essa ferida aberta que tive de prosseguir, foi com as recordações da minha ciganita que tive de avançar e dia a dia tentar encarar os anos que a ainda me restavam. Minhas rotinas passaram a ser: Trabalho casa, trabalho por do sol como sempre fazíamos. Morgana passou a ser uma espécie de fantasma, meu fantasma mais querido. Conversava com suas fotos, sonhava como estivesse viva. Eram sonhos que pedia que nunca terminassem. Mas a vida era implacável. Tudo terminava num simples abrir de olhos. Apesar de todo o apoio dos poucos amigos, familiares e de Rita, minha vida transformou-se em pouco mais do que uma recordação. Tentei de todas as formas e feitios saber mais do que se sucedera após o crime, mas tudo foi infrutífero. Cheguei a contratar até um detetive particular, mas o resultado foi o mesmo: Além do sutiã que guardei comigo como lembrança, mais nada. Um dia Rita convidou-me para com ela passar férias. Não aceito nãos! Eu tinha completado 65 anos de idade e, desde o acontecimento a muitos anos atrás havia sequer pensado em férias. Foi com muita persistência que conseguiu que a acompanhasse nas férias. Vou ser um mau acompanhante, avisei-a, facto que não a incomodou, levando avante o convite. Então quis ela passar férias em Espanha, nomeadamente nas ilhas das canárias. Como a havia avisado, não fui um bom parceiro. No entanto, determinada a me ajudar, um certo dia convidou-me para uma festa na vila. Meu coração ficou deveras amargurado quando vi barracas de vendedores, muito parecidas com aquela que avistei Morgana pela primeira vez. Vamos embora! Pedro, agora que estás espera mais um pouco, pediu-me Rita. Ela apercebeu-se do meu estado emocional mal avistei as barracas. Eu sei meu lindo, mas foi de propósito que te trouxe cá, afirmou. Não devias ter feito isso, enfureci-me. Amanhã mesmo saio desta maldita ilha, disse-lhe super zangado. Rita pediu-me desculpa já no hotel. Foi má ideia, desculpa-me. Estás desculpada, disse-lhe bem mais calmo. Eram mais ou menos duas da manhã quando ouvi me baterem a porta. Era Rita. A esta hora, perguntei-lhe. Vem ao meu quarto comigo por favor, suplicou-me. Olha, não bebeste em demasia? Anda e cala-te, repetiu. Quando entrei em seu quarto deparei-me com uma mulher de costas. Vestia longos vestidos negros e seu cabelo outrora loiro estava repleto de manchas brancas. Quem é esta mulher? Imóvel, a mulher cabisbaixa mantinha-se calada. Deixo-vos a sós, declarou Rita. Eh… onde vais perguntei-lhe mas tarde demais, fiquei sozinho com a mulher. Fiquei por instantes olhando-a e de repente vi-a virar-se. Aqueles olhos meu Deus. Morgana? És mesmo tu? Ela sorriu-me. Sim, sim és tu acrescentei apressando-me na sua direção. Meu guapo, meu amor, disse-me abraçando-me com força. Perdoa-me por todos estes anos. Fui obrigada. Teve de ser assim, senão ele matava-me. Porquê só agora meu amor, perguntei-lhe apertando-a bem juntinho a meu peito. Vivi todos estes anos como escrava de Davi, informou-me lavada em lágrimas. Agora que o malvado morreu, queria te dizer que estou pronta para retomar nosso romance se ainda me aceitares. Claro que sim meu amor, disse-lhe de lágrimas nos olhos. Beijei levemente seus lábios e disse-lhe: Como meu coração rejubila de felicidade. Claro que sim. Nunca te deixei de amar! Conversamos por várias horas até o nascer do sol, acontecimento que quisemos presenciar. Quando o sol despontava no Horizonte, disse-lhe: Morgana mulher da minha vida, que achas de agente a partir de hoje, não assistir ao por do sol mas sim contemplá-lo? Morgana segurou minha mão e exclamou: Sim amor, um novo dia nasce para nós!

 

Fim.

 

Roberto Marcos.