O encapuçado
Por Roberto C R Marcos.
- Diz assim a palavra do senhor por meio de seu servo João; Apocalipse 1,20 Mas tenho contra ti que toleras a Mulher Jesabel, que se diz profetisa ; ela ensina e seduz os meus servos a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas a ídolos. Os olhos de José perscrutavam a plateia. – haverá entre nós aqueles que são filhos de deus, outros mandados de santanás , o príncipe terreno. – ele está entre nós, não se deixem cair em tentação. – aqui , hoje mesmo vos digo, nesta mesma plateia temos servos do anjo caído! - mas pastor, quem de nós é criado do diabo? Entre o magote de fieis levantou-se um homem de meia idade e de boa aparência, vestido de fato negro e de cabelo grisalho. – como se chama ? – meu nome é: Leonardo e sou fiel a uma vintena de anos. – então diz-me Leonardo ; - quem acha que é filho de santanás? O homem olhou todos na plateia. – não podemos saber , não é? - pode ser eu? Os olhos do homem fixaram-se em José. – pode sim – afirmou. – certíssimo Leonardo. – pode se sentar – disse-lhe José. – eu ando de terra em terra, e vos digo; - existe mais filhos do diabo do que convertidos! – estamos a beira do fim, por favor estejam de olhos bem abertos, pois entre vós, atépartilhando as mesmas coisas, pode estar o anjo do mal ! Uma velha de lenço negro na cabeça, curvada pelos anos, levantou a mão desde a plateia. José colou os olhos naquela personagem. – o pastor sabe me dizer como nos pudemos salvar no estado que o mundo está? Baixando os olhos redargue ; - infelizmente hoje, posso vos dizer que é muito difícil sermos perseverantes na palavra de deus, pois mesmo eu, sou tentado todos os dias, e. na verdade vos digo, são tormentosos os momentos de fraqueza. – o pastor é casado? – quem perguntou isto? – aqui pastor - declarou uma moça dos fundos , adjacente a porta de saída. Ela tinha um longo cabelo castanho, um vestido azul . – como te chamas ? – Mónica pastor – respondeu sorridente. – Mónica, achas bem ? ela torceu ligeiramente o nariz . – então , que achas Mónica? – eu acho que sim – titubeou . – achas bem – disse-lhe José. – quem se lembra do padre desta igreja? A plateia toda levantou os braços. José sorriu. – ele era casado? - não senhor – responderam todos numa só voz. – que idade tinha? – menos de 50 – respondeu um homenzinho na fila da frente. – irmão, diga-me uma coisa se souber . – porquê ele se foi? – não precisa se levantar – disse-lhe de imediato José quando constatou suas dificuldades de mobilidade . O homem tirou seu chapéu de flanela, e olhando José nos olhos afirmou; - dizem as más línguas que ele foi obrigado a sair. – sabe porquê irmão? - não sei bem, mas acho que tudo tem haver com tentativa de violação. – hora aí está uma prova – exclamou José fazendo um olhar geral sobre as pessoas presentes. – a castidade não se pode impor não pode ser regra, a castidade tem de ser uma opção individual ou espiritual. – não sendo assim, descamba no que assistimos todos os dias. – padres, pastores, são tentados a práticas no mínimo sórdidas, nada coincidentes com um servo de deus. – deus criou o homem, a mulher, para que tenham filhos, mas para isso ser realidade tem de se cruzar. – somos feitos do pecado original, portanto corre-nos nas veias todo o tipo de blasfémias , vis pensamentos, tentações, o que quiserem inumerar. – poderão alguns de vocês se perguntar; - porque é assim, e não é de maneira diferente, sendo deus o criador dos céus e da terra. – boa pergunta – exclamou José. – não queiram entender os desígnios de deus! José desceu os dois degraus do púlpito e começou a passear entre os presentes; - os senhores do conhecimento, aristocratas da verdade, cientistas loucos, filósofos do diabo, tentam todos os dias desacreditar as santas escrituras, com um só desígnio, congregar a igreja de santanás, o imperador da terra. – como vos li do livro de apocalipse , Jesabel simboliza o demónio, que nos leva a acreditar em ídolos, feitos por homens e para homens. José sentou-se junto dum casal com um filho que não devia de ter mais de seis anos. – como te chamas meu anjo? – a criança respondeu-lhe; - Joel senhor. – Joel, quero que venhas comigo – declarou José olhando para os pais. Ambos consentiram com um sorriso . Levando a criança pela mão em direção a tribuna , disse-lhe; - espera aqui um bocadinho . – sim senhor – respondeu-lhe o menino de olhos nos pais. José entrou numa porta dos fundos , momentos depois apareceu com uma imagem ao colo. Era uma figura de mulher, tinha trajada um manto azul e na cabeça uma croa. Colocou-a do lado do menino e perguntou-lhe; - conheçe-la? A criança ficou de olhos na peça de barro. – nunca ouviste falar dela? O menino mostrou-se confuso . – é bonita? – sim , é gira – respondeu olhando para José. – gostavas de tê-la em casa? – é muito grande – declarou a criança. Aquela resposta fez todos sorrirem.– provavelmente vocês devem-se estar a interrogar; - o que tem haver a criança com a imagem, eu digo-vos; - nada ! – eu só trouxe Joel até cá, para simplificar vosso entendimento. - esta linda criança representa o que devemos ser quanto ao entendimento das sagradas escrituras, ou seja, umildade, pureza . O Deus criador dos céus e da terra , rei dos reis, sêr contemplado com toda a sabedoria , tem um propósito para nós. - não queiramos ser mais do que ele, pois somos meras criações dele. - quem aqui presente deseja saber o que pensa eo que planeja para nós? Os rostos na assembleia ficaram imóveis de olhos em José. Ele esboçou um sorriso. - confuso? - não, é tudo muito claro - declarou de olhos semi cerrados.– José deu dois passos atrás, e junto da mesa que estava no púpito pegou na bíblia e levantando-a , exclamou; - aqui está tudo o que ele planeou para nós! - que mais existe além de sua palavra escrita pelos profetas e seus siguidores? - devíamos ser todos como este anjo - afirmou José aproximando-se de Joel e colocando-lhe a mão no seu cabelo loiro , recolocando-o junto de seu pais. - vouvos contar uma história muito curta - declarou José regressando ao palanque. - eu já fui um incrédolo. - quando não era dotado de conhecimento , quando ainda a inocência me corria nas veias, olhava para a palavra de Deus com uma fé indestrotível, pensava eu a época .Mas os anos foram passando e eu adqueri estudos e muito conhecimento em variadas áreas sobretudo científicas. Então ex que um belo dia comecei a pôr em causa o poder de Deus porque achava muito lírico , um quanto ao tanto fantástico pensar que um sêr espiritual tinha o poder de fazer as estrelas, planetas, galáxias e tudo que nos rodeava. A partir desse dia, entrei em depressão e em delírio , queria porque queria saber quem criou Deus, como tudo começou. Hora meus caros, Deus mostrou-me que existe coisas e factos que não nos dizem respeito, devemos sim, obedecer como criações que somos. - muitos , e cada vez mais, aparecem mentes iluminadas a colocar tudo em causa. agora digam-me , quem somos nós para pôr em causa os desígnios do senhor? - ah , mas porque eu penso por minha cabeça e tenho todo o direito de assim refletir. - nada mais certo! - Deus até nisso foi bom, deu-nos o livre arbítio . José de repente pontapeou a estátua que um dia havia sido chamada de milagreira. - esta estátua que um dia foi adorada , venerada, e aplidada de milagreira , não passa para Joel dum brinquedo , e quase de certeza sem interesse de maior. - não é meu querido? O menino acenou afirmativo do lado de seus progenitores .– é isso que eu quero que vocês sintam quando o diabo e seus siguidores vos abordarem com alegados milagres destas coisas – declarou José olhando para a imagem caída. Por de trás de si na parede uma enorme cruz de madeira foi colocada, por debaixo escrito; - tua palavra é minha luz. José ficou por segundos de costas para a plateia, e ajoelhando-se orou em voz alta; - senhor meu deus, tem piedade de mim e livra-me do mal. Voltando-se de novo para a expectante plateia, pegou na bíblia e continuou; - Levítico 19 ,4 Não vos volteis para os ídolos , nem façais para vós deuses de fundição . Eu sou o senhor vosso Deus. – que preciso mais dizer – perguntou José olhando a congregação. Levantou o livro sagrado ao cimo da cabeça e exclamou; - depois do que vos li , que valor tem isto – declarou colocando um pé sobre a imagem tombada. – isto não é material fundido? – não terá de ir ao forno esta peça? – quem fez esta obra não terá mais valor do que um simples monte de barro? – que poderes tem isto – gritou José . – se me ajoelhar perante esta estátua ,faz-me um milagre? – não, não, e não! – isto é obra de santanás! – ele sim, ele quer que os estimados acreditem nisto, porque isto é contra a palavra de deus. – nesta mesma igreja , sim aqui , foi praticado o culto ao diabo. – quando aqui cheguei este salão que agora estamos estava pejado de estátuas como esta – declarou José agitando a imagem debaixo de seu pé. – caros irmãos, eu não vos falo estas coisas porque quero somente, ou porque sou maluco, não , está aqui tudo escrito! - vejam este livro – disse-lhes abrindo algumas páginas da bíblia.– - como se designa este livro? – as sagradas escrituras , pastor – respondeu-lhe o homenzinho da fila da frente. – hora bem, se isto é a palavra de deus, a qual as igrejas cristãs dizem que seguem, porque não levam aletra o que aqui está escrito? Os olhos de José perscrutavam cada rosto, cada movimento na assembleia. Subitamente ouviu-se umestrondo. As portas do salão que davam acesso a rua, foram abertas inesperadamente. Toda a assembleia virou-se no sentido da porta. Surgiram três homens, ao centro um vestia batina negra e seu cabelo era branco como a neve. Levantou seu braço, e apontou na direção de José. – é aquele! Os dois que o ladeavam dispararam corredor fora, e com violência agarraram José que não resistiu. O bruaá na sala foi grande. – quem são vocês – perguntou a moça junto da porta. O imponente homem de cabelo alvo como a neve e de olhos flamejantes respondeu-lhe : - somos a nova igreja .José antes de sair gritou; - não cedam aos ídolos! . é contra a palavra de deus! Mais tarde , e depois de ser castigado foi deixado numa berma muito longe do localdonde havia pregado. Todo o seu corpo estava cheio de chagas , e as dores eram grandes. Então derrepente baixou sobre ele uma nuvem , e seu espírito foi abarcado. Envolvido pelo manto branco ouviu; - ex me aqui José. Então foi levado a um lugar escuro e onde o enxofre emanava pelas múltiplas carateras existentes. Era o reino de Santanás . Ele havia reunido toda as suas tropas, o propósito , dar início a batalha final . Vulcões comgrandes crateras deixavam sair gritos aterrorizantes , pelas encostas almas condenadas ao fogo eterno gritavam; - perdão senhor dos céus e da terra, tem piedade de nós. Haviam berros orripilantes pela vasta área em chamas, bichos que se assemelhavam a cães esquartejavam asalmas em aflição, e eram lançados novamente nas crateras, e assim sucessivamente até o dia prometido. O exército de santanás, pairava sobre o aterrorizante local. No entanto, debaixo dum manto escarlate, berrando sobre as almas em sofrimento ,esvoaçavam animais edênticos a dragões, montados por figuras fantasmagóricas vestidas de vermelho. As enormes bestas negras que se assemelhavam a cães ,donde saía por suas grandeosas bocas um encandecente líquido prateado multiplicavam-se em atacar as almas em aflição eterna.– perdão meu deus , livra-nos deste tormento – eram as frases mais ouvidas , proferida por aqueles que se arrastavam sobre o chão coberto de brasas , , literalmente delacerados pelos cães demoníacos, e novamente lançados no fogo eterno. Havia gritos de dor, lamentos e sobretudo arrependimento. Haviam serviçais de santanás com uma função específica , fazer com que as almas não tivessem um só instante sem dor., Era um lugar chamado inferno, a comarca do diabo . Eles clamavam misericórdia divina. Morriam e viviam constantemente abarcados por dor.Pairando sobre tudo e todos, uma imagem de homem , rosto brilhante como estrela, clamava com voz que se assemelhava a mil trovões. – Ex que o pacto está prestes do fim. – foi-me dado todo o poder na terra,e um lugar onde a milhares de anos atraio as almas para o fogo que nunca cessa. Então ,os olhos flamejantes fixaram-se em José . – tu serás meu servo – bradou o diabo apontando-lhe o dedo. De repente José ficou com seu corpo em chamas e gritou ; - não, eu não quero!
Uma imensa bátega de água abateu-se sobre o país.
- José, José, acorda homem. Ao abrir os olhos, José deparou-se com o rosto de Natália. – Que se passou querido? Ele sentou-se na cama alvoroçado. Natália afagou seu longo cabelo negro. – Estás todo suado - comentou Natália. – Que horas são? Inclinando-se, ela ligou a luz da mezinha de cabeceira e espreitou o despertador; – três da manhã – afirmou. – tive um sonho estranho - declarou levantando-se. – - um pesadelo? – sim – retrocou.onde vais – perguntou-lhe Natália. – vou a casa de banho . José era empregado público , nomeadamente num dos mais concorridos departamentos do estado, ou seja a segurança social. O jovem casal havia-se casado a dois mêses, com Natália uma algarvia de portimão.. Acendeu a luz do banheiro, e colocou-se defronto ao espelho. – tão bizarro – murmurou olhando-se . Passou água no rosto e regressou ao quarto,onde o aguardava sentada na cama sua esposa de rosto preocupado. Que aconteceu, amorzinho, perguntou-lhe. .
José ficou por momentos olhando-a de olhos inexpressivos . – não sei, isto vem-me acontecendo dia após dia, e nos últimos tempos vem piorando . Ela sabia, todavia nunca o havia confrontado .–.– - Vem cá – disse-lhe Natália concertando seu lugar.– mas o que foi que sonhaste – perguntou-lhe. José aninhou-se entre seus grandeosos seios. – muito confuso – disse-lhe ele enquanto Natália afagava seu rosto. – qualquer coisa sobre o inferno , a palavra de deus - murmurou . Natália estranhou que ele sonhasse sobre religião sendo ele um confeço ateu.– - meu amor , nem acreditas na palavra de deus! É por isso é que é esquisito . Os sonhos eram recorrentes e ele vinha-se comportando demaneira diferente. Massajando-lhe as têmperas , a bonita Natália declaroo:
Agora tenta dormir , tudo isso pode ser cansaço. – acho que sim – sussurrou José virando-se de costas . Pela manhã , José já se havia esquecido da noite de tormento. da cozinha vinha um cheirinho a pão quente que emanava da máquina que compraram e que está sempre programada para confecionar o pão a hora certa, ou seja as seis da manhã. Natália era educadora infantil, trabalho que já exercia na sua terra natal e que por sorte conseguira colocação no destrito de lisboa . Por norma levantava-se primeiro, e com gosto e muito amor preparava o pequeno almoço ao homem que reavivou seu adormecido coração. Ele era um dorminhoco, e um quanto ao tanto maldisposto pela manhã. Ela não era assim. Levantava-se bem-disposta e gostava de começar o dia com música. Por isso o televisor da cozinha estava por norma ligado no canal da especialidade com o volume no mínimo não fosse ele ficar encomodaddo..José era daqueles que quanto menos barulho melhor. Todos os sons acima de certos decibéis já lhe fazia uma certa confusão . Natália sabia-o . Viviam numa terra ribatejana , terra natal de José , filho de pessoas humildes que fizeram das terras seu sustento, do gado bravo a grande paixão . Quanto a família de Natália , eram de origensumildes também, todavia era a pesca que lhes premitiu sobriviver. Frequentemente ,sente muitas saudades, sobretudo de seu envelhecido pai único sustento da família . Hora, Manuel navalheira alcunha de família ,ficou privado de sua mulher ainda não havia feito os sessenta. Homem dotado duma obstinação sem precedentes, criou 9 filhos sozinho. Mas os anos de labuta no desgastante mar, fizeram das suas, e a explosiva simbiose levaram-no a terra fria com setenta e cinco anos . Para trás deixou seus filhos criados e todos sem exceção orgulhavam-se de terem tido um pai como ele. Natália passou tempos aflitivos, a fome rondou as esquinas da casa, as necessidades era o dia a dia. Mas tudo isso estava no passado, presente era a dádiva que Deus lhe havia atribuído.
Não havia dia que não agradecesse a deus e especialmente a nossa senhora por ter encontrado José . Ele surgiu na cozinha depois de ter tomado seu banho matinal . O ar envolvente ficou impregnado do seu perfume .Formal como sempre, com uma camisa rosa velho impecavelmente engomada, e umas calças pretas com vives grená. Seu cabelo longo negro como o carvão, estava preso num rabo de cavalo. Natália olhou-o com deslumbre. Não fosse seu mau-humor matinal ele era perfeito. Mas para Natália isso não era problema. Já o conhecia suficientemente , sabia como agir..– bom dia amor . – senta-te lindo , eu já fiz tua mochila . – numa marmita tens bacalhau frito com arroz branco, e levas uma laranja e um iogurte para a tarde. Eram já longínquos os dias que ele não precisava de levar almoço. Mas com as sucessivas crises, os contínuos problemas globais, fizeram-no de novo pegar na marmita.– tua mãe já ligou – disse-lhe Natália enquanto ele se sentava .– a esta hora? - bolas, são sete da manhã! – até parece que não a conheces – replicou Natália. Dona Maria Lúcia , mãe estremosa apesar dos contratempos da vida, era o que se chamava na gíria , uma mãe galinha.– Não havia manhã que não se inteirasse do estado anímico de seu rebento . Já seu pai, era mais distante, contudo adorava José. Ambos eram analfabetos por necessidade. Criados na mais cruel das condições , a pobreza,- foram desde meninos obrigados a trocar os livros pelos campos. No entanto a insiclopédia da vida permitiu que fossem sábios dos seus ofícios, facto que premitiu a José apesar de todos as vicissitudes ter uma infância, juventude, melhor do que eles. Malaquias homem rude , porém de coração amistoso ,sempre dizia; - não sou daqueles que se lamentam aos filhos pelas faltas do passado. – gosto sim, de lhes poder dar em dobro o que me faltou, assim satesfaz-me duas vezes. Quanto a Maria Lúcia, ela era intimamente dócil, transpirava benignidade, e afável em tudo que fazia. Criou seu filhote como um passarinho cria sua ninhada. Cada choro, cada queda,a qualquer altura lá estava ela, pronta a dar amor. Mas José cresceu e fez-se homem, contudo sua preocupação não terminou. E por esse facto, logo pela manhã certefica-se do seu estado . - Que sono meu deus – resmungou José de olhos parados na caneca de café com leite. Mas algo despertou sua atenção.– não comes? – não tenho muita fome – disse-lhe ela. estava estranha. Olhando-a perguntou-lhe; - que se passa contigo hoje? Natália agitou-se no banco. José levantou a cabeça e esperou que ela respondesse. – talvez fiques chateado - disse-lhe. – olha, para ficar chateado , preciso saber o que se passa não achas? – eu gostava de ser mãe – é isso . José arregalou os olhos até entãofixos nela. – é isso? – não te chateias? – depois falamos nesse assunto – disse-lhe ele bebendo a caneca dum trago . Levantando-se , colocou a mochila as costas, e olhando-a perguntou: – Não te vais preparar para o trabalho? – hoje não vou ,é meu dia de folga . – ah então é isso - exclamou José. – porque não mo disseste? – desculpa amor não tive tempo ontem a noite – disse-lhe esboçando um sorriso. José recordou-se da altura que fizeram amor . – pois é verdade – sorriu timidamente.–– - foi uma noite e tantas – declarou para remate. – que bom amor – murmurou Natália comprimindo os lábios.tudo bem, vou indo . José beijou-a em despedida , deixando-a com seus pensamentos. Natália escondera-lhe que não tomava a pírola a precisamente um mês. Era um sonho ser mãe. Contudo, também sabia que José não era muito de acordo em se por uma criança no mundo sem ter o mínimo garantido para sua plena sustentabilidade. – não quero andar com meu filho pela mão de porta em porta pedindo ajuda. Claro que Natália combatia seus argumentos com a frase mais do que batida: - Tudo se cria ! Mas nem esse chavão demovia José , que por seu lado , retrocava com outro aforismo ; - Homem precavido vale por dois. A casa onde moravam ficava a escaços 100 metros da estação de comboio, transporte que José apanhava a vários anos desde que foi obrigado a vender seu carro para pagar uma prestação da casa. Em tempos seu progenitor fora um dos mais reconhecidos trabalhadores de todo o ribatejo, não havia grande proprietário que não o conhecesse. Como não há bela sem senão, também tinha uma personalidade de veras difícil ,Maria que o dissesse. No entanto, por outro lado nunca descurou sua família, muito pelo contrário. Era meigo para sua esposa dentro dos paradigmas machistas a época,e seu único filho era tratado com brandura ,sem perder a auteridade.Por isso , José passou sua infância junto das lesírias. Por vezes recordava-se dos tempos que as aulas terminavam e quando ainda a idade não passava duma intrínseca ingenuidade . Ele acompanhado por outras crianças nas mesmas circunstâncias voavam para os campos , com um só propósito, ver o gado bravo. Por isso ficou um grande amante de touradas. Antes de conhecer Natália , José entendeu comprar seu cantinho como gostava de dizer. Não obstante seu fraco salário, com ajuda de fiadores, consiguiu concretizar um dos seus sonhos, ter sua própria habitação. Não porque não se sentisse bem junto de seus pais, não,mas porque sempre sonhara viver só. Mas entretanto , o país pela milésima vez entrou em recessão , e seu ordenado foi atingido pelas políticas de contenção. Não sendo muito de chorar sobre o leite derramado, José como milhões de porguguêses já estavam acostumados que mais ano menos ano, isso era uma triste realidade. Começava a ser uma questão cultural-o-científica . Era um caso de estudo um país que ano após ano, século após século limitava-se a sobreviver somente enquanto outros com territórios até bem menos apetrechados no âmbito das riquezas naturais , evoluíam .Injusto ou não, para ele o mal do país não estava no que produzia, mas sim na qualidade dos políticos e suas ambições particulares . Entendia que para se ser um bom chefe de estado, um governante sem qualquer suspeita, tem de se ter espírito de missão e não usar a política como trampolim para outros voos.Mas isso era temática para os entendidos. Quanto a ele só restava-lhe trabalhar, porque nem greves podia fazer. Um dia de greve, era um mês de água canalizada . O pass já lhe dava que pensar. Quantas mais greves dos funcionários dos comboios, mais os preços aumentavam. Esse era um dos assuntos que o intrigavam. Um dia ouviu um pica dos comboios dizer alto e e a bom som; - as greves só beneficiam a cp , não há desgastes de material, não se consome eletricidade, é só regalias! Hora, esse dito funcionário era dos poucos que não gostava de fazer greves. – se precisassem não as faziam. – mas não devemos lutar pelos nossos direitos? – direitos sim, e onde estão os deveres – replicava a quem o confrontava com esta pergunta. Por certo o aclamado funcionário , não devia ser muito popular entre os colegas, todavia olhando-se para ele notava-se que era homem decidido e frontal. Mas ainda declarou mais. – porque será que a hipocrisia chega ao ponto de só fazerem greves depois dos desgraçados dos utentes comprarem o passe? Ele podia não ser bem visto pela classe, mas entre os passageiros era tratado como um herói.
Faltava um mês para as férias. Divergindo de outros anos, José não as tiraria , pelo menos onde ambicionava , designadamente nos açores . Desde que ficou independente ,ou seja, por sua conta, todos os anos era seu hábito percorrer uma nova terra. Foi numa dessas suas viagens que conheceu Natália. Frequentemente lembra-se do dia que a viu pela primeira vez. Agosto ia a meio ,o mês de eleição dos portugueses, e ele não divergiu. Estava no pino do calor, ele como todos os dias estava deitado na sua tualha de banho , lendo. depois dum dia passeando por Portimão, particularmente pela vila de alvor , nada melhor que passar o resto da tarde na praia lendo um romance do seu autor favorito. descobriu Quando o sol já era uma ínfima facha alaranjada no horizonte, uma linda moça que fazia o mesmo a escaços cinco metros dele. Era Natália. De imediato seu sensual corpo despertou interesse. Como para ele vergonha era palavra riscada de seu dicionário, não foi de modas e meteu conversa. Ela estava com um biquíni amarelo , óculos escuros, e usava seu cabelo loiro solto que escorria por seus delicados ombros. o livro é interessante? Ela parecia-lhe um anjo tal era a perfeição de seu rosto. Quando levantou os óculos para o olhar, seus olhos azuis brilhavam de curiosidade. Embora Natália achasse muito atrevimento, todavia respondeu-lhe; - muito mesmo . – quem é o autor ? – isso é interesse, ou uma vulgar forma de engate . José não se desmanchou com a frontalidade, pelo contrário ele até achava excitante mulheres com pelo na venta , como se costumava dizer. – não, enganou-se . – ah é, e enganei-me em que parte? - na parte do interesse literário. Ela sorriu com o descaramento do rapaz. Ele era giro, e acima de tudo deixava-a um pouco desconfortada tal era a incisão que seus olhos precorriam seu corpo. – estou a ler Camilo Castelo Branco - disse-lhe ela. – que engraçado. – eu estou a ler Essa de Queiroz. – também gosto – informou-o Natália um pouco mais descontraída. Nessa mesma tarde juntaram as tualhas e ambos leram juntos. Trocaram algumas ideias e o número de telefone. Ela disse-lhe o que fazia, ele disse em que trabalhava. No dia seguinte combinaram esperar um pelo outro, dando-se assim início aquilo que veio a se transformar numa repentina e ardente paixão. Porém as férias findaram, e havia que regressar ao trabalho. Contudo antes, José assegurou-se que o que sentia não era mero fogo de palha, e pediu-a em namoro.nasceu entre eles uma avassaladora paixão. Ele havia ficado inapelavelmente atraído Por Natália, ela era verdadeiramente deliciosa. Não demorou em saber a resposta. – claro que sim – disse-lhe ela com alegria . Natália apesar de ter sido muito pretendida ao longo da sua ainda curta vida , não havia sido rapariga de muitos namoros. No entanto, aos 18 teve um namorado que lhe deixou marcas para a vida. Quando ainda planeavam como seria o futuro em conjunto, ex que o moço amante da velocidade e detentor duma moderna mota , pereceu ao quando dum acidente. Natália a data desse trágico acontecimento havia terminado o secundário e preparava-se para entrar na universidade . Levou meses a se reerguer emocionalmente, teve de atravessar um deserto de íntimos conflitos . No entanto, como diz o povo, o tempo cura tudo, e o moço que tanto amou , ficou sendo uma doce lembrança somente. Passados 7 anos, surge-lhe inesperadamente um ribatejano na sua vida , despertando em si sensações quase esquecidas. Ele era incomum. Incomum não por ser bonito, isso não, porque os havia as centenas. Incomum porque era sobretudo umaalma contemplada com o dom da benevolência. Ele tinha lhe dito que era parecido com a mãe. Natália agradeceu a Deus porque estava prestes a ser nora duma senhora verdadeiramente cheia de benignidade. Mas José não se resumia somente a beleza e a bondade. Era brando nos gestos, brusco no olhar. Natália gostava dessa forma de ser. Depois do primeiro beijo, da primeira noite passados juntos amando-se repetidamente, ficou com uma certeza insofismável , havia encontrado o amor. Então, José nesse mesmo verão, deixou para trás a colina de vila velha , que dumina a ria de alvor . Ficou sabendo que também que havia sido um povoado neolítico com vestígios de ocupação romana prosterior, e que comprovava a extensa história da documentada povoação . Também lhe informaram que Durante o domínio árabe, alvor foi porto próspero. As moralhas que a defendiam foram palco de sangrentos combates quando o exército português , comandado pelo rei D. Sancho I , com a ajuda de cruzados , a conquistou em1189. Recuperada pelos muçulmanos em 1191 , só aquando das campanhas de conquista do algarve , em1250 , voltou ao domínio cristão .
Ele que até não era muito de história, pouco a pouco foi-se entusiasmando pela riquíssima e invulgar história de portugal. Cada terra com sua particular narrativa, lendas, feitos, e meros detalhes paisagísticos. Portugal não era só rico no que concerne as pessoas ,mas também duma história onde reis , rainhas princesas,eram protagonistas de infindáveis lendas .
De repente e antes de entrar no café que bebe a bica pela manhã José recordou-se do sonho. Abanou a cabeça como a espantar as inúmeras vozes que o vinham assaltando a mente. Desordenadas passagens, variadas datas, caras que nunca havia visto , tudo evadia seu cérebro . - Devo estar a ficar esquizofrénico - pensou entrando na pastelaria que sempre toma o café pela manhã. bom dia Zé cumprimentou-o o dono da flor do campo , nome da pastelaria. – mais um dia , não é ? – tal e qual – respondeu-lhe ele encostando-se ao balcão de vidro. Senhor Marcos era conhecido de seus pais, em tempos fora também trabalhador nas terras , todavia com os trocos que amialhou comprou a pastelaria a um habitante que entendeu emigrar, mais uma vítima da austeridade. Nesse contexto ,foi mais perspicaz do que seu pai que nunca fora propenso a economias e, por esse facto ,vivia com uma reforma veramente miserável.– eh rapaz hoje estás com uma carinha – declarou senhor Marcos colocando-lhe a chávena de café a frente. – nem lhe conto.– não me digas que a mulher colocou-te a dormir na sala? José esboçou um sorriso. - Não senhor Marcos, ela gosta de dormir sempre com os pés quentes. essa é boa rapaz . Marcos era baixo e usava como marca pessoal um grandioso bigode farfalhudo, onde as estrimidades enrolavam-se como ganxos.– Sua baixa estatura era talvez seu calcanhar de aquiles, por isso usava por detrás do balcão um estrado que lhe permitia ficar ao nível dos clientes. Sua enorme alegria, sua sempre presente boa-disposição, cativava muitos clientes e era uma das suas principais virtudes. Desde que comprou o negócio ao antigo proprietário , os clientes foram aparecendo cada vez mais em grande número. – o segredo não está só em saber tirar bicas, mas na simpatia que se transmite ao cliente – dizia sempre. – limpeza, muita limpeza, e um sorriso permanente é o segredo – acrescentava. Marcos era daqueles casos raros que não foi preciso saber ler para singrar nos negócios.- Ele gostava de comentar que quando se tem vontade de ganhar dinheiro , existe uma coisa muito importante, ou seja , trabalho, muito trabalho. - Sem trabalho , sem esforço , nada se obtém - comentava .então que foi que te aconteceu meu jovem ? Os clientes entravam pouco a pouco, não houve tempo para grandes explicações. – conto-lhe mais tarde – disse-lhe José . – vai com deus – respondeu-lhe dos fundos senhor Marcos atarefado . – com deus –murmurou José já do lado de fora. Minutos mais tarde já no interior do comboio que tinha como meta final santa Apolónia , refletiu de novo no estranho sonho. Contudo, não lhe foi fácil se concentrar. Repleto , o comboio não acomodava nem mais um alfinete. No entanto, em cada estação entravam sempre mais dos que saíam. – pobre sofre – murmurou José esprimido entre a multidão onde osvariados perfumes, e as bocas porescovar era fator de náuseas . Não havia nem podia haver reflecção quando se levava com tamanha profusão de aromas , alguns verdadeiramente orripilantes. - vou vomitar aqui mesmo – refilou . – alguns olhos fixaram-se nele . – oh amigo , vumite quando sair – exclamou um passageiro . – - meu deus , a água ainda está a um preço acessível! a pasta de dentes não está tão cara assim. O passageiro levou aquilo como um insulto. – está a falar comigo? – porquê, serviu-lhe o barrete? - Então gerou-se uma discussão generalizada, por fim já não se sabia quem discutia com quem. Foi nessa altêntica algazarra que o comboio anunciou; - estação terminal, santa apolónia com acesso ao metro e aos comboios de longo curso. José quando saiu respirou fundo e exclamou;
– para a próxima vou escolher melhor o o local! – a falar sozinho? –Sofia era companhia frequente de José. Tal como ele, ela também apanhava o mesmo comboio e a mesma hora, e fazia alguns anos que eram amigos . Daquelas amizades que se fazem nos transportes públicos e que muitas ficam para a vida. – estás tão, tão … José reparou de imediato na mutação operada. Naquele dia Sofia havia-se deixado dormir, só conseguindo entrar quando as portas já se fechavam. Sofia abriu mais um pouco seus lindos olhos amendoados. Quando sorria as delicadas maçãs de sua face distinguiam-se ainda mais. Era de boca pequena, e realçava-se por ter cabelo curto , pouco usual nas mulheres portuguêsas. Dotada de sorriso contagiante, tinha um corpo que não passava despercebido aos homens que se cruzavam consigo . Normalmente usava calças de ganga que realçavam seu cobiçado bumbum, motivo de algumas altercações e estaladas. No entanto, naquele dia nãovestiu calças facto que devia ter intristecido os muitos tarados que fazem do comboio seu meio de locomoção . Vinha trajada com um vestido negro comprido , notabilizando-se duas gigantescas rachas que iam desde as cochas aos pés , que estavam calçados por umas sedálias da mesma cor. Também se destacava um profundo decote , onde se vislumbrava o vale feito por seus enormes seios . Ele agradou-se com que viu . Sofia era bonita de qualquer forma, seu corpo era verdadeiramente voluptuoso. – teria arranjado namorado, ou só se vestira assim por motivo especial? As perguntas assaltavam-no. Nunca fora mesmo rapaz de meias medidas. A confiança adquirida por anos de amizade , era facto soficiente para a interrogar; - não me digas que vais a um encontro?– vamos andando garanhão – disse-lhe Sofia. – qualquer dia alguém dá com a língua nos dentes, e tua mulher põ-te a andar desta para melhor . – se for para melhor – replicou José de olhos fixos no decote. – assim deixas-me envergonhada – barafustou Sofia vendo que ele não lhe tirava os olhos dos seios. – que queres, isso é a coisa mais bela e atrativa que a natureza fez. – tudo bem, mas agora olha em frente - ralhou-lhe Sofia tocando-lhe no rosto. – meu deus, dizem que isto está casado – comentou em sussurro. – eu ouvi!
eu já te conhecia antes de casar com ela. – tudo bem, mas as coisas são diferentes agora – disse-lhe Sofia.– mas mudando, porque estás tão produzida? – vou a um casamento de uns amigos gueis . – não sabia que tinhas dessas amizades – afirmou José. – então não sabes que agora eles podem-se casar? – sei sim, coisas do ex primeiro – resmungou José. – tu és preconceituoso nesse assunto? José olhou-a de relance. – ouviste que te perguntei? – ovi mas não quero responder – retrocou .–– então porquê – perguntou-lhe Sofia. – digamos que não me apetece . – nunca imaginei que seria amiga dum preconceituoso! – preconceituoso e não só – gracejou José . – pronto, eu vou-te dar minha opinião sincera - disse-lhe José estacando . – então , estou a espera – afirmou Sofia olhando-o . José não conseguia articular palavra subitamente recusou falar sobre o assunto . – digo-te mais tarde minha opinião . – vocês são farinha do mesmo saco – disse-lhe Sofia . – tudo bem, meu bolinho de arroz – brincou José retomando a marcha.– sabes uma ccoisa, não me sinto bem vestida assim. – não te sentes tu, mas sinto-me eu! – ai, ai José , olha a Natália. – que queres que te diga , és boa como o milho. – vamos mudar de conversa - disse-lhe Sofia. – acho melhor, porque senão sou tentado a violar-te mesmo aqui. Sofia riu-se com seu jeito. Ela sempre gostou da maneira que ele dizia as coisas, tinha uma graça natural. Ambos desceram as escadas rolantes, passaram pelos torniquetes - e esperaram na plataforma que o metro chegasse.– aproveitando o breve momento de acalmia , José entendeu perguntar a Sofia ; - diz-me uma coisa que ando a anos para te perguntar . – já sentiste alguma coisa por mim? Os lindos olhos de Sofia semicerraram-se , Ficou de olhos nele e pensativa. – porque isto agora e depois de tanto tempo? – não sei, apeteceu-me perguntar-te , existe mal nisso? – claro que não – retrocou. – não sei até que ponto me senti atraída – disse-lhe visivelmente perturbada. – uma resposta no mínimo evasiva – declarou José. - olhava-temais como amigo, e não como homem em toda a extensão da palavra.– Sofia mentiu. Ela em tempos teve um fraquinho por José, adorava seu jeito malandro, seus olhos verdes , seus ombros largos, e sua boca sensual. Muitas vezes imaginou-se com ele, mas por obra do destino , nunca se havia proporcionado . Todavia, as hipóteses eram reduzidas,nesse âmbito ele andava sempre ocupado. – mas diz-me uma coisa; - sim ou não, e por favor a frase não sei ,diz tudo e o seu contrário . Sofia entendeu que naquele momento não lhe diria que , sim, teve uma paixão recolhida e que sonhou inúmeras vezes do seu lado depois de fazerem amor . Era conhecida pelos mais próximos como uma mulher sem papas na língua, mas as coisas não se processavam de maneira tão simplista . Seus pais já desaparecidos do mundo dos vivos , costumavam lhe dizer que seria uma grande mulher , toda ela era lidereança. Mas eles já haviam falecido. Um trágico acontecimento. Depois de os dois se reformarem dos CTT , com a filha criada e vivendo por sua conta e risco, julgavam que teriam uma velhice sossegada . Não foi isso que tiveram. Sofia por vezes lembrava-se daquela manhã fatídica quando bateram-lhe a porta de seu apartamento . Quando abriu ainda de ramelas nos olhos, deparou-se com dois agentes da alteridade. – senhora Sofia? – sim sou eu. – podemos entrar – perguntaram-lhe os dois policiais. – claro que sim, que se passa senhores agentes – indagou de súbito . – bem, o que nos trás aqui, não são boas notícias presumimos – disseram-lhe tirando os bonés. – bem, seus pais … - que tem meus pais? Seu coração disparou. – tente-se acalmar disse-lhe o outro agente. – uma fuga de gás infelizmente difícil de ser detetada, causou a morte a seus entrequeridos , sinto muito – disse-lhe o policial de ar cabisbaixo. Foram tempos complicados os que se sucederam . Sofia adorava seus pais. Pessoas designadas da classe média tinham como lema para a vida : - dar uma educação a sua filha onde tentaram semear no seu coração a árvore da fraternidade embora não fossem crentes . Suas vidas eram como um mar calmo, fazendo do conhecimento versos cultura, um gosto particular. Hora, Sofia bebeu disso tudo um pouco. Licenciou-se , e contra todas as conjeturas , principalmente de seus amigos, formou-se em infermagem. Trabalhava numa das mais conceituadas clínicas de lisboa, onde exercia a profissão que sempre gostou . – sim, eu tive um fraquinho por ti . – mas na altura o D. Ruan andava muito ocupado nem dava conta. – bolas, ocupado e cego! José não lhe tirava os olhos. Sofia achou-o diferente. – caramba já viajamos juntos a anos e só hoje vens com essa conversa? - que queres, eu hoje acho-te mais linda do que os outros dias. – tudo bem, mas não te esqueças que és casado . Entretanto o metro chegou e eles entraram e sentaram-se lado a lado. Sofia por momentos pensou na pergunta de José. Não lhe faltavam pretendentes, e agora que ele tocou no assunto, constatou que desde que o conheceu nunca mais havia se envolvido. – seria porque ainda gostava dele? Como o comboio ,o metropolitano estava cheio como um ovo. Alguns homens desciam os olhos para o lado de Sofia. – é melhor descruzares as pernas – disse-lhe José atento. Sofia fez o que ele lhe disse. – são todos iguais – exclamou. – o que é bonito é para se ver – comentou José. – Antes ela tinha lhe feito uma pergunta , a qual ele parecia fugir . não desvies o assunto . – amas tua mulher? Os olhos deslumbrantes de Sofia emanavam um brilho diferente. – é importante saberes? – é – respondeu-lhe secamente. – Natália é uma boa esposa. – só isso? Os olhos de Sofia continuavam presos nele. – sim, agente entende-se – declarou José. – entende-se … - que maneira de falar da esposa. – deixa isso agora - porque eu tenho uma coisa para te contar. – tudo bem , tu é que sabes. – tive um sonho , aliás venho tendo sonhos – emendou José. – eu também – gracejou Sofia. – mas o da noite passada foi o mais esquesito que me lembre . – próxima paragem, terreiro do passo – anuciou a voz que vinha dos autefalantes . – despacha-te– disse-lhe Sofia. – eu era uma espécie de padre, pastor, uma coisa assim. – não me digas , tu pastor? – o mais estranho – continuou José. – eu estava numa minúscula aldeia, e pregava para uma dezena de aldeiões, seus rostos ainda não me saíram da mente. – acordei todo suoado! - cuitadinho – zombou sofia . – o mais caricato , foi quando o sonho me mostrou o inferno. Sofia revelou algum interesse. – e depois? – como era aquilo? - era quente como dizem? – não brinques – afirmou José. – desculpa , podes continuar. – Santanás não tem a figura que todos pensamos . – qual é a figura dele então , não é metade bode e outra metade homem? - não, nada disso – afirmou José. Sofia ficou a espera da descrição . De repente um calafrio precorreu todo o seu corpo. José fez ar de pensativo, e declarou; - tinha um rosto reluzente , seu cabelo brilhava comouma noite de lua cheia , e seus olhos eram dois farois. – a voz parecia um dia de tempestade, e tinha a estampa dum lutador de box. –Estava envolvido por uma núvem de fumo, e seus anjos de vestes escarlate comrostos difusos bradavam seu nome. – pela área, havia rios de lava incandescente. Envolvidos, corpos esbracejavam, os gritos aflitivos ecoavam pelo vasto território . - tem clemência de nós o deus criador dos céus e da terra. – vi também enormes bestas que eram uma espécie duma mistura de cão e dragão que os desmembravam em mil bocados enquanto outros eram espetados por lanças em fogo.– O cenário era dantesco. Sofia notou que a face de José mudara de expressão , estava patente que ele vivia o que narrava. Sua voz de repente tornara-se grave, da sua garganta saíam gemidos . – piedade de nós o deus dos céus – era o que gritavam. O pânico era total, havia gritos estridentes , os gemidos de dor por todo o lado. – era como morrer e nascer de novo, sempre sendo terturado. José estava de olhos fechados, e sua testa apresentava gotas de transpiração. Quando abriu os olhos, encontrou os de Sofia fixos nos dele. – eles morriam e renasciam sucessivamente , sempre debaixo de turtura. Não havia tempo de descanso a dor era infinita! - sentes-te bem? José engoliu em seco. – tenho a boca a saber mal – confessou.– - bolas, estavas a viver a cena – declarou Sofia tirando de sua bolsa um lenço de papel com que limpou sua face. Contudo, José ainda não havia terminado. – por incrível que me parecesse , eu era conhecedor de toda a bíblia, livro que nunca coloquei os olhos – afirmou José . – tenho uma lá por casa, mas nunca fiz uso dela.
sabes uma coisa – declarou. – eu nesse sonho, conhecia a bíblia dos pés a cabeça! Sofia agitou-se. – caramba, que sonho! – eu morria de medo se sonhasse isso – comentou. – acreditas – perguntou-lhe José olhando-a. – claro que sim – declarou Sofia . – mas eu sei que não és crente , como é que sonhas com isso – perguntou-lhe .– - não sei te respoder – afirmou josé.– estranho – murmurou ela. Depois de Sofia ter saído, ele ainda levou mais alguns minutos relembrando-se dos sonhos que o vinham assaltando noite após noite, e nos últimos dias até em plena claridade.
Horas depois, José estava no recompartimento onde almoçava e depois de aquecer seu almoço, falava com Natália ao telemóvel. As conversas giravam sempre sobre os mesmos assuntos . Natália contava-lhe como decorrera seu dia, ele fazia o mesmo. Para José ,era a parte inerente a relação mais maçadora .No entanto, não deixava de lhe ligar a hora certa. – existem sacrifícios que são necessários – pensava ele a esse respeito. Seu dia decorreu sem muitos sobressaltos, a exceção ,haviam regressado as visões dantescas. Mais uma vez sua mente foi evadida por cenários orrendos, e mais uma vez viu-se envolvido no meio dofogo. Passagens de vidas antigas, futuros acontecimentos surgiam-lhe em catadupa, era-lhe difícil ordenar tanta informação. Era evidente que sua mente estava a ser possuída por algo extraordinário . Quando fechava os olhos, surgiam-no rostos difusos, tragédias , catástrofes naturais e datas muitas datas. Natália também surgiu em retrospetiva , e seu dia todo visualizado em pequenos flaches . José não se sentia mal pelo facto de estar a ser evadido por algo transcendental , mas sim porque não conseguia distinguir as várias informações , mas sobretudo porque não as conseguia colocar por ordem.
Pelas cinco e meia da tarde e depois de mais um dia de trabalho ,tudo o que desejava era chegar a casa. No entanto, seu telemóvel tocou. Era Sofia. – como é que te correu o dia? – bem pior que o teu – disse-lhe José. – não sabia que gostavas de cerveja – comentou ele para espanto de Sofia . – como sabes que eu tenho um fino a frente ?– - um mero palpite – gracejou. Pouco a pouco José vinha se adaptando as inúmeras informações, e instante a instante, e recolocá-las no rosto certo. - onde estás agora? – vou descendo a rua em direção a boca do metro – informou-a ele . De repente algo fez-o estacar. – espera um pouco – disse-lhe afastando o aparelho do ouvido. Seu corpo deu em estremecer descontroladamente . – José, ainda estás aí? – josé, estás a me ouvir ? Todavia, não lhe serviu nada berrar ao telemóvel, José havia sido guiado em direção a uma porta donde saía cantos religiosos. Quando entrou viu-se numa ampla sala de culto, nas pparedes que rodeavam o salão, os fieis estavam encostados de cabeça curvada . Haviam outros tantos que colocavam suas mãos sobre a cabeça daqueles que se alinhavam ao longo da parede e gritavam: - Sai santanás, sai deste corpo! Sentando-se observou por minutos o cenário . Não eram mais de vinte pessoas que lá estavam, no entanto faziam barulho por cem. Depois dos salamaleques, quando já todos regressavam, ex que cai inesperadamente no chão uma mulher . - é o demónio – berraram todos . O homem do púlpito, vestido de fato cinzento e de gravata preta, de imediato ocorreu ao local e olhando-a com incisão perguntou-lhe: - Como te chamas filho das trevas? - eu sou o pombinha – respondeu-lhe a mulher que nunca tinha parado de estrabouchar. – esta mulher , virou-se o pastor para a plateia, foi possuída por um dos demónios mais fortes ao serviço de santanás. – ah, ah, ah, - riu-se José com o comentário. Toda a cabeça lá presente virou-se no seu sentido. – é como vos digo irmãos – continuou o pastor indiferente as gargalhadas. – ele é um dos arcanjos mais poderosos do diabo! – que charlatão me saíste Luís Inácio – gritou José levantando-se. De imediato instalou-se um bruaá na sala. – por favor quem é você? – eu, eu sou aquele que te pode desmascarar. José saiu do seu lugar e foi em direção ao pastor que alegadamente expulsava um demónio da mulher. Quando chegou perto, constatou que a mulher havia parado de estremecer. – Luís Inácio, Luís Inácio, não se deve enganar a fé das pessoas. O pastor um homem ainda novo e de ar jovial, olhava para José com espanto . – teu pai não se matou a trabalhar para vir a ser progenitor dum charlatão, pois não? - cuitado do tio Almerindo , mais conhecido por cavilhas . – faça com que se levante - pediu-lhe José apontando para a mulher prostrada. – o demónio já se foi – gracejou José. – levanta-te minha filha – obedeceu-lhe o pastor. Ouviu-se da plateia gritos de aleluia . – agora vai para junto dos teus – disse-lhe ele . – por favor, queira-me seguir . José fez-lhe a vontade. Ele mesmo sentia que não havia sido por acaso que ali se deslocou . – como conhece meu pai? O pastor estava verdadeiramente perturbado com José. – só vim cá te dizer uma coisa – afirmou José recusando a cadeira. – não se deve brincar com os espíritos. – quem é você – perguntou-lhe o pastor. – não é muito do teu interesse. – fixa somente minhas palavras – disse-lhe José olhando-o profundamente. Quando José saiu do gabinete do pastor, já o aguardavam dois seguranças .
– acompanhe-nos por favor disseram-lhe. No lado de fora, e depois de ser expulso da congregação que dava pelo nome de igreja mundial do reino do senhor , José sentiu-se mal e desmaiou segundos depois. Quando abriu os olhos, olhou em redor, seus olhos bateram nos de sua esposa. Natália chorava compulsivamente. – que se passou? – oh meu querido – disse-lhe atirando-se sobre ele . – calma aí que me partes todo. – desculpa amor, mas eu, bem…
- por favor não chores e conta-me o que se passou. José não se lembrava de nada . Ela estava com seu cabelo loiro comprido apanhado no alto, e vestia calças brancas ,para cima uma blusa de verão vermelha. – estás linda – exclamou José. Natália esboçou um sorriso. – obrigado –replicou ainda de voz trémula. – encontraram-te caído no passeio . – onde? - junto do teu emprego . – não me lembro de nada – retrocou. – agora esquece, já estás acordado, e eu vou-te levar para casa – disse-lhe Natália beijando-o na testa. – és nosso protegido – ouviu internamente . Num ápice veio-lhe tudo a mente. As vozes regressaram e com mais força ainda. - não te importas de verificar se alguém está do lado de fora? Natália ficou olhando-o sem perceber .não ouviste que te disse? Natália dirigiu-se a porta e abriu-a. – não tem ninguém aqui - disse-lhe do fundo . As vozes continuavam na mente de José . – tens a certeza? – sim amor – respondeu-lhe espreitando para os dois lados do corredor. - não existe viva alma – declarou. – deixa lá, e vem cá por favor. – vamos embora - afirmou levantando-se energicamente. – olha , podes sentir-te mal – declarou sua esposa alarmada. – o senhor tem de ficar para mais observações - afirmou a infermeira de turno quando se deparou com José já vestido e preparado para zarpar. – eu estou muito bem e cheio de força – respondeu-lhe José de sorriso nos lábios. Posteriormente , e depois de assinar um termo de responsabilidade pela saída extemporânea ,três horas depois de dar entrada,já estavam do lado de fora. Hora, o relógio marcava 10 da noite, e ele estava esfomeado. Entraram ambos nnuma pastelaria, e pediram dois bolos e dois cafés. Ele comportava-se de maneira estranha , Natália pensou tratar-se do traumatismo . Por detrás deles , um cego tentava encontrar um lugar vazio ao balcão.José ajudou-o a se orientar. – muito obrigado amigo – agradeceu-lhe o cego , um rapaz que não devia de ter mais de vinte anos. – que foi que lhe aconteceu aos olhos? José, não se pergunta isto ao senhor – intrometeu-se Natália. – doença de nascença – respondeu-lhe com descontração o moço. José fez-lhe outra pergunta. – posso ver seus olhos? – como, não percebi – disse-lhe o rapaz. – pode tirar seus óculos escuros? – para quê? – vamos embora José – afirmou Natália visivelmente nervosa. – tudo bem , se insiste – retorquiu o moço de sorriso nos lábios. – não se assuste – brincou. José reparou que o rapaz tinha um rostoagradável – , e sua cegueira não o coibia de se gorvernar por si mesmo . acho que deus quer que você veja – disse-lhe José tocando-lhe com seus dedos nos olhos. – eu já estou resignado. – com deus nunca se pode estar resignado – replicou José massajando suas pupilas. Natália assistia a tudo abasbacada. Seu marido por certo havia perdido o juízo! – vamos José – disse-lhe de novo. – pronto , está satisfeito? – deus vai-te dar uma alegria – comentou José colocando-lhe a mão no ombro. – amém – murmurou o jovem voltando a colocar os óculos. – já pagaste? Natália estava assombrada com a atitude de seu esposo. – não olhes para mim assim – disse-lhe de rosto resplandecente de felicidade. - porque fizeste aquilo - perguntou-lhe sua esposa assombrada.– - Um impulso tão forte que não consegui controlar . - Precisas de descanso - disse-lhe ela pagando o que consumiram. Colocando a mala ao ombro Natália apressou-se em o tirar do café, não fosse ele ter outro impulso! . No trajeto Natália não abriu a boca. Por seu lado, José levou o caminho todo cantando , particularmente imos religiosos. As pessoas riam-se do seu jeito compenetrado, Natália desejava um buraco para se infiar. – Aleluia , osanas ao deus criador da terra e dos céus. – fala um pouco mais baixo – pediu-lhe por fim Natália. Natália estava verdadeiramente apavorada, triste porque achava ter perdido José para uma demência ,doenças que vinham sendo habituais . – não te preocupes – disse-lhe ele olhando-a com incisão. – não me perdeste para doença nenhuma. – como sabes que eu estava a pensar nisso? - deus disse-mo. – que sentes? José sorriu. – olha querida – afirmou. – não sei o que me aconteceu, mas sinto-me tão feliz lovando a deus , que não encontro palavras que consigam exprimir meu contentamento . – é como tivesse sido possuído por umaenergia tão forte, que me preenche de felicidade. – julgo que sou uma espécie de mansageiro , sinto e oiço vozes que me alertam para perigos, situações futuras, e até posso ler pensamentos. – portanto, sinto-me intocável ! - foi isso que sentiste perto do cego? Os olhos azuis de Natália olhavam-no com uma mistura de amor e medo.– - aquilo foi um impulso tão forte, como que minhas mãos adquerissem vida própria. - precisas procurar um médico com urgência . – para quê? Natália abraçou-se a ele mesmo com o comboio cheio. – tu não és tu ! – tu não és assim, eras ateu! - acalma-te – disse-lhe José. – olha para mim – pediu-lhe. – eu estou bem , não te assustes. Natália ao olhar para seus olhos, sentiu um bem-estar súbito . O resto da viagem manteu-se muda de olhos em José que se desdobrava entre os passageiros divulgando as sagradas escrituras.Depois de chegarem a sua terra,José intensificou sua invageslização . – irmãos , irmãs, estejam defronte a praça central! – lá verão prodígios do senhor. Como embriagada sua esposa acompanhava-o como um cão que segue para todo o lado seu dono.– O trajeto que faziam normalmente , em cinco minutos, demorou mais de uma hora.– Não havia viva alma que ele não abordasse. – venha irmão, deus vai lá estar! Haviam pessoas que o tratavam como um maluco simplesmente, outras viam nele algo que as levava a aceitarm. Natália presenciou tudo isso. Hora, na terra que nasceu, naturalmente era mais conhecido. Por isso mesmo o jovem José, filho de Malaquias, começou a ser tratado por demente. – cuitada da moça. – tem um marido tão novinho e já com uma doença mental. Todos estes comentários começaram a surgir com naturalidade ,nem sendo preciso esperar muito, foi logo no primeiro dia eno caminho para casa ! José sabia que tudo isso teria de percorrer. Sua mente era evadida por mensagens , futuros acontecimentos e simples detalhes de personalidades. Não sabia o porquê de ser contemplado com esse poder, mas estava claro para ele que deus o havia escolhido, e tinha uma razão.No entanto, o antigo José, rapaz trabalhador, conhecido no passado por ser um namoradeiro, morrera. Quando chegaram a casa, Natália como acordou do transe e voltou a carga com a história da consulta; - José andas muito cansado meu amor – repetia vezes sem conta.– olha Natália – disse-lhe José aborrecido de escutá-la com a história da consulta. Levou-a pela mão até sua pequena sala, e sentando-a ajoelhou-se em sua frente e pegou em suas mãos. De olhos nela, tentou que percebesse;- eu sei que para ti é difícil perceber o que te vou dizer, mas tenho que te dizer, não existe outra maneira. José levou suas mãos a boca e beijou-as com meiguice. – ontem mesmo, como te deves lembrar acordei com um sonho ,recordas-te ? Natália anuiu acenando com a cabeça. – nesse mesmo sonho, eu era uma espécie de mensageiro , nomeado a percorrer as terras com um só intuito, evangelizar. – mas era só um sonho – murmurou Natália de voz embargada. Algo lhe dizia que o ia perder. Não se enganou seu coração. Contudo, também prognosticava para José tempos difíceis, ele precisaria dela certamente. – estamos juntos a dois meses somente, por isso quero que me escutes com atenção. – eu não te vou dar o filho que tanto queres , porque de hoje em diante eu serei um © vagabundo ) do senhor. Provavelmente passarei tempos críticos, pois o mundo está cheio de pecado ,a maldade abunda, sobrepondo-se a razoabilidade. – não penses que estou maluco , eu não estou . – mas vou ser chamado de tal, por isso quanto menos tiveres do meu lado, menos te tocam. Natália olhava-o, e seu coração encheu-se de compaixão. – espero que nossa senhora de fátima te ajude . – não, ela não me ajuda, aliás ela não ajuda ninguém. – ela é um subterfúgio para esconder os verdadeiros desígnios duma igreja que se diz cristã. – que desígnios são esses – perguntou-lhe Natália confusa. – entende isto – disse-lhe José levantando-se e sentando-se do seu lado sempre com suas mãos entre as dele. – achas que se deve cativar toristas , fazer operações de charme com algo tão sagrado? - a palavra verdadeira de deus, não precisa que a vendam, ela só por si se espalha – repara na bíblia, dois mil anos depois cá está. – que sentes quando olhas para a imagem que és devota? – uma paz interior – retorquiu Natália. – achas que um bocado de barro transformado em imagem humana trás paz? - será a imagem, ou será o ambiente envolvente? - olha querida – continuou José. – acreditas em mim? – claro – retrocou Natália beijando suas mãos. – achas que eu sou mais fiável que tua santinha de barro? Natália olhou-o nos olhos, e sentiu um arrepiu, um calafrio consolador. – acho sim – respondeu com convicção. – deus tocou-te - disse-lhe José. – quem vai acreditar em ti? – poucos que se transformarão em muitos! –– vou buscar minha bíblia – disse-lhe ele de ar decidido. A bíblia que falava , não era nem mais nem menos que uma prenda que sua mãe havia lhe oferecido pelo natal e que ele colocou de imediato de parte. – está na cave – gritou-lhe Natália. Ela mesma a havia arrumado depois de a ver abandonada . – não , não está – afirmou ele desde o quarto. Um minuto depois José surgiu com a bíblia debaixo do braço. – mas, mas … Natália estava atónita. – foste a cave, quando! José lançou-lhe um sorriso. – deus encarregou-se disso. – preciso ir – disse-lhe ele saindo. Para natália era óbvio que ele havia sido possuído por algo transcendental , desejando que fosse divino e não diabólico. Hora, mas para ela também estava claro que ele seria redicularizado, pois não se passa do dia para a noite de telefonista a profeta com a ligeireza que se sucedeu. Era óbvio que o chamariam de tudo , menos de irmão. No entanto,ela amava-o, embora ele tivesse dito que não lhe daria um filho . Por certo perderia o emprego, e consequentemente os amigos. O povo cada vez mais afastado da palavra de deus, tudo por culpa dos consecutivos escândalos no ceio de muitas congregações, quase de certeza que o tratariam com louco, e o despresariam. A ela restava-lhe apoiá-lo, não podia ser doutra forma, pois amava-o mais do que tudo. Ficou por momentos de olhos na porta de saída, seu corpo não reagia a nenhum impulso . – onde ele vai – pensou de olhos estáticos.
Defronto a praça de toiros as pessoas acotovelavam-se para ver o homem que gritava e falava da consumação dos séculos . – mas aquele não é o filho do Malaquias? - ele não se casou recentemente? – venham todos ouvir a verdade . – o fim está a chegar! – oiçam a voz do senhor Jesus. José abriu a bíblia , a sua frente já havia uma pequena multidão. Alguns apareceram por curiosidade, outros porque passavam lá perto, e havia também quem fosse de livre vontade e com fé. Sofia que havia descido para beber um café e conversar um pouco com uma de suas amigas que por acaso era funcionária na mesma clínica que trabalhava , deu conta da agitação e foi espreitar o que estava a acontecer defronto a imblemática praça. Mal seus lindos olhos castanhos bateram em José que estava de joelhos com a bíblia aberta, sua mente de imediato lembrou-se do sonho que ele lhe havia contado. Então Sofia ouviu bradar em voz alta ; - Apocalipse 22 . 8 Eu , João sou o que ouvi é vi estas coisas . E quando as ouvie vi , prostrei-me aos pés do anjo que mas mostrava ,para o adorar . 9 Mas ele me disse : Olha , não faças tal ; porque eu sou conservo teu e de teus irmãos , dos profetas , e dos que guardam as palavras deste livro . Adora sim a deus. Levantando-se gritou: Como todos vocês ouviram o anjo que o mostrava tudo que se passará nos tempos mais próximos, não aceitou que ele o adorasse. – pergunta: - quem daqui presente gostava de adorar um anjo ? A pequena multidão ficou em silêncio . Sofia aproximou-se da dianteira . Estava literalmente aterrorizada .Não podia acreditar no que via perante seus olhos. José o ateu, o mulherengo, o preconceituoso, machista, pregava a palavra de deus! – conhece-lo? - menina ouviu-me? Sofia foi acordada de sua perplexidade por uma mulher que lhe perguntava se ela o conhecia. – é meu avô ! – estúpida – replicou a mulher afastando-se de Sofia que havia lhe respondido torto. No entanto cada vez mais chegava gente. Haviam gargalhadas por todo o lado, outros estavam compenetrados no que ele lhes dizia. – vai trabalhar vagabundo – gritavam de vez enquanto. – água amigo – berravam outros dos fundos. – não se encomodem com que dizem a meu respeito. – quem sou eu perto de Jesus, e tudo lhe fizeram. – pudera eu ser um simples atacador de suas sandálias, a poeira que ele pisava. – ai senhor, os que te mandaram matar ainda pressistem e mais ainda furiosos. – ex que oiço vozes de filhos do diabo que continuam a despresar tua palavra. – cães sarnentos filhos de santanás! - a todos aqui presentes vos digo: Eu fui mandado por deus a este local para vos alertar de algumas coisas. – Amanhã mesmo, cairá sobre esta linda terra um terrível temporal , ai daquele que sair a rua! – a ira de deus se abaterá sobre ele e sua família. – escutem o que vos digo, eu falo pelo meio do espírito santo. – até a bem pouco tempo , conversando com uma amiga minha, disse-lhe que tinha tido um sonho. – nesse sonho, eu vi as almas no inferno, e quão terrível é. – viste meu pai por lá – ouviu-se do fundo da multidão. Houve gargalhada generalizada . – não, mas quem falou digo-lhe: - Hoje mesmo chorarás por sua ausência . – um silêncio ensurdecedor instalou-se na praça.– não sou eu que o digo, mas sim o espírito de deus. – não temais povo incrédolo, porque eu sou o mesmo deus desde o começo dos tempos, serei sempre o mesmo até a o término. A voz de José fez alguns temerem. Tornou-se mais poderosa e assemelhava-se a um trovão. Então de seguida ouve gritos, e recuaram perante o que avistaram. O corpo de José foi engolido por uma nuvém que se abateu sem ninguém se aperceber. – mas que raio se passa aqui – murmurou Sofia olhando , vendo, mas não acreditando. – É magia! – ele é santanás ! Num ápice desapareceram quase todos, Sofia ficou literalmente de boca aberta . Então, viu a nuvém alva como a neve decipar-se , mas José já não lá estava. – belo truqe sim senhor – disseram os que não fugiram . Sofia regressou a casa e levou toda a noite pensando no que seus olhos avistaram. O vento começou a aumentar de intensidade, e começaram a cair pingos grossos que vergalhavam de contra as precianas . Um calafrio percorreu todo o seu corpo , de súbito meteu-se debaixo das mantas. Recordou-se de sua profecia . – Queres ver que é tudo real? Então saiu debaixo dos lençóis, e foi-se colocar a varanda do seu apartamento que ficava no terceiro andar. De lá avistava uma substancial parte da cidade. Estremeceu de frio, mas o vento era quente. – mas que raio – exclamou fechando de novo a janela. Voltou ao quarto e vestiu seu roupão que já havia arrumado até o próximo inverno. Quando regressou já a chuva vergalhava impetuosa de contra as vidraças, o vento estava minuto a minuto mais forte. Espreitou de novo pela janela e constatou que o céu noturno apresentava uma cor escarlate. Então de repente, enormes estrondos fizeram-se ouvir e os raios faziam clarões parecendo mil fotógrafos. toda a cidade foi iluminada. Chuvia tanto que ao cair no chão levantava ondas de água que assemelhavam-se a ondas de fumo. – meu deus – murmurou Sofia de rosto colado a vidraça. Minutos depois as sirenes dos bombeiros já eram bem audíveis, os gritos ecoavam por toda a cidade. De repente e quando se preparava para se recolher ao quarto,a luz elétrica foi abaixo. – Merda – resmundou tateando em direção onde pensava estar a porta da sala. Aos tropeções, assustou-se quando o telefone trinou mesmo debaixo de seu nariz. Com o coração aos saltos atendeu: - sim , quem é?– Sofia minha linda , não te atrevas a sair. – José és tu mesmo? – Onde estás , eu estou com tanto medo – disse-lhe ela de voz trémula. – Não temas que nada te acontecerá. – Que se passou contigo , José? - Eu estava na praça e vi tudo ; – vontade divina , e eu sou um mero mandado de deus. – mas tu não acreditavas em deus - comentou Sofia. – somos todos filhos de deus, mais cedo o mais tarde, todos nós vamos saber que ele é nosso criador. – onde estás agora – perguntou-lhe Sofia ouvindo uma espécie de goteira de fundo. – estou neste momento olhando para tua janela – disse-lhe . – Não me digas – riu-se Sofia. – qeres entrar? – quero sim, preciso de ti – afirmou. – Ainda bem , porque eu estou morrrendo de medo – declarou Sofia mais descansada. – E Natália? – Não te preocupes quanto a ela – retorquiu ele. – Abre me a porta do rés-do-chão por favor eu estou na cabine telefónica defronto ao teu prédio. Mal pousou o telefone, a luz regressou. Sofia associou a conversa com José. Correu para a porta de entrada e primiu o botão que abria a porta do prédio. Momentos depois ouviu suacampainha tocar. Abriu-a e mal avistou José lançou-se em seus braços. – não tenhas medo , tudo passará – declarou-lhe passando-lhe as mãos encharcadas nas costas.– entra que eu vou-te dar roupa seca – disse-lhe Sofia conduzindo-o até a casa de banho. – veste de momente isto – declarou dando-lhe um roupão de homem. – vou a procura dumas chanatas para ti – disse-lhe desaparecendo , regressando segundos depois com umas pantufas de quarto na mão. – são de senhora, mas devem te ficar a matar – disse-lhe de sorriso nos lábios. Poucos minutos depois, afirmou-lhe José; – estou aqui por uma razão muito especial . Os olhos dele nunca se afastaram de Sofia, especialmente do seu roupão entreaberto onde ele divisava parte de seus seios sem sutiã ,que tanta vez o excitaram.– preciso que entendas aquilo que vou-te dizer – disse-lhe ele pousando a chávena de chá que ela lhe havia feito. – Não me perguntes porquê, mas é só o que te posso dizer de momento; - Gostava muito de fazer amor contigo , um desejo recolhido de anos ; - Acho que sentes o mesmo , não estou certo? Sofia noutras alturas mandava-o dar uma volta de certeza. Contudo, algo nos seus olhos a faziam desejá-lo, e numa ação descontrolável abriu seu roupão e deixou seus enormes ceos a descoberto. Toda ela subitamente ficou extasiada , só havia um só pensamento; - entregar-se de corpo e alma a seus desvaneios e caprichos sexuais. José começou por a beijar nos mamilos indurecidos, descendo até seu ventre e voltando a subir , acabando em sua boca. Por seu lado, Sofiadesejava e procurou anciosamente o membro enrijecido de José inclinando-se para o saboriar. – Meu amor como esperei por este momento – disse-lhe ela colocando-se sobre ele e abarcando-o com suas pernas. José maravilhava-se ao vê-la subir e descer num ritmo constante . – Quero te fazer a fémea mais feliz do mundo – disse-lhe José retirando-a de cima de si e colocando-se por de trás dela , segurando-a pelas ancas e penetrando-a com violência. Sofia gritou de dor. – estás a me magoar – declarou segura pela cintura. José abrandou o ritmo .Depois de os dois terem sido contemplados por um orgasmo sintunizado, descançaram um pouco.Minutos mais tarde Josélevou-a para o quarto e amou-a horas seguidas.Ele não se cançava de a penetrar , um facto que Sofia verificou e e já a estava a enfadar. – Tenta descansar – disse-lhe mais duma vez. Mas José não lhe dava ouvidos, tinha uma incontrolável vontade, e ela estava ali a mão , linda, sumptuosa, verdadeiramente apetecível! – José eu não posso mais , estou toda partida - suplicou-lhe ela pela manhã depois de ele mais uma vez a desejar. O sol já entrava pelas frestas da janela , o temporal havia cessado . – Não sei que tenho, só me apetece fazer amor contigo – disse-lhe ele quando ela se sentou na cama visivelmente fatigada. – Quase me matas – declarou dirigindo-se a porta. – Onde vais? – Preciso me lavar estou toda suja . Quando Sofia regressou José já estava de pé e vestido. Só teve tempo de ouvir : - Não podes me dar o que procuro! Ficou de olhos nele , seu semblante estava desfigurado, seus olhos brilhavam, um brilho diferente.
Entretanto,Natália pela manhã amargava sem notícias de José. – onde será que ele anda – pensava diambolando pela casa. O telemóvel dele estava desligado, e os comentários das vizinhas eram no mínimo mordazes. – Eu não sabia que o nosso José era pregador - comentaram. Haviam de propósito ido bater a sua porta só para lhe dizer tais coisas. – Ele sempre foi muito crente – tentou desfarçar Natália, mas não foi nada fácil. – ah sim, um dia ouvi ele falar , e não me pareceu. – talvez estava zangado com qualquer coisa – disse-lhes Natália . – Se não se importam eu gostava de me preparar para sair – declarou-lhes . – o José não está em casa? – não, foi a casa dos pais – afirmou Natália pensando que elas desistiriam.– Se foi a casa dos pais, porquê eles estão no rés-do-chão? – quem está= - Os pais de José – disseram – E pporquê não sobem? - . As duas vizinhas entreolharam-se e retorceram o nariz . - estão a ser interrogados. Natália estremeceu. – e por quem? – pela televisão,radios e jornais. – que fizeram eles para merecer tal cobertura? – eles nada, mas José sim. – então o temporal que se abateu? – que tem o temporal? – cuitadinha não sabe - disse-lhe uma das vizinhas mostrando pesar. . O que é que não sei – interrogou Natália.– ele profetizou este temporal – comentaram . – e ainda tinha dito que um rapaz iria chorar muito, e tinha razão, morreu-lhe o pai! - mas se isso não fosse o suficiente , surgiu um telefonema para a redação duma televisão um cego que afirmou que havia sido curado por ele . Natália estava em pânico. Ela havia presenciado esse momento! Depois de ter afugentado as mechiriqueiras, acção dolorosa ,vestiu-se ligeira e desceu. – aí vem ela! Senhor Malaquias denunciou Natália até então incógnita para os meios de comunicação social. O all de entrada estava repleto de jornalistas. – Senhorita Natália; - Como se sente sendo esposa dum milagreiro? Ela não lhes respondeu,e decidida furou a barreira de jornalistas e foi retirar seus sogros da moilhada.– A salvo do assalto, perguntou: mas quem ordenou que entrassem? – fomos nós – responderam-lhe desde o cimo das escadas as mesmas vizinhas que lhe haviam batido a porta. Natália gritou-lhes: - Quero aqui a polícia em cinco minutos! Escadas acima, seus sogros foram-lhe narrando o que os levou até ela. Logo pela manhanzinha foram despertos por uns vizinhos que lhes disseram o que seu filho andava a fazer. As reações foram díspares . Enquanto Mallaquias bradava aos quatro ventos pesar por ter perdido um filho para uma demência, sua mãe, pelo contrário , chorava em silêncio.Longos minutos depois, e depois da polícia ter expulsado os Max media, seu sogro tentava entender o que se poderia ter passado com José . – minha filha, ele ultimamente bateu com a cabeça? Natália ainda tentou lhe dizer que José podia estar a agir guiado por a mão de deus, todavia foi de pronto contrariada. – qual deus qual carapuça - disse-lhe ele. – deu-lhe mas foi a travadinha– acrescentou indignado. Quanto a mãe de José, manteve-se impávida e serena. As únicas coisas que se ouvia de sua boca resumiam-se a uma pequena frase : - Deus que o perdoe. No entanto, todos tinham uma certeza, José não era o mesmo, e algo teria de ser feito. Mas o quê? A multidão acotevelava-se do lado de fora do prédio. Não havia televisão, privada ou pública que não tivesse com as cambras apontadas a porta principal. Os noticiários abriram com a notícia do alegado milagreiro, e durante o dia não se falou de outra coisa. José era conduzido por ruas e becos que não conhecia, confluindo a um descampado nos arredores da cidade. Seus passos mal tocavam o chão , ele estava a ser guiado , uma espécie de chamamento.– Foi afluir a um grande portão a entrada principal dum vasto terreno plano onde se podia ver inúmeras oliveiras e alguns sobreiros. José entroucampo a dentro e só estacou quando chegou a uma pequena elevação onde se podia divisar tudo em redor. – Tens de falar – ouviu uma voz interna . – Ali está ele! A população da cidade que fora fustigada toda a noite por um repentino e súbito temporal acordara em sobressalto e todos queriam ver de perto o homem que tudo vaticinou . Foram encontrar José berrando no centro do terreno , e rapidamente o local foi evadido. – Oh santinho milagreiro bradavam as pessoas mais antigas. – Diz-no o que acontecerá a minha família diziam outros. José estava de braços abertos e uma leve brisa fazia esvoaçar seu longo cabelo negro . Bombardeado , abarcado por múltiplas e magnificentes sensações , José anunciava coisas que o povo gostava. – Não temeis oh povo incrédolo, pois eu vim a vós de coração anunciar-vos que prodígios acontecerão maravilhas do nosso Deus! Milhares de carros convergiam para o local, outros tantos a pé apressavam-se rumo ao lugar. Era uma debandada , num ápice a cidade ficou vazia. A comunicação em peso também lá estava, foram destacados meios aérios para fazerem a cobertura do ar . – São milhares e milhares de habitantes e não só da cidade que convergem rumo ao local – narrava o jornalista de dentro do helicóptero. Num outro ponto, outro repórter anuciava: - Sabemos de fonte segura que o governo convocou uma reunião de urgência para debater este inesperado fenónimo. Nos ecrãs de todo o país foi difundido uma entrevista ao primeiro ministro . – Natural que nosso governo está atento a tudo que envolve nossos cidadãos, e só nos resta esperar por informações. – Mas , senhor primeiro ministro ; - que acha desse homem que todos chamam de milagreiro? - é de bom tom respeitarmos qualquer manifestação de fé, acredite-se ou não. – O senhor acredita? – Peço desculpa, mas acho que isso não é relevante; - eu sobretudo, desejo que se apure o que se passa e, depois tiramos nossas ilações. – Como os senhores telespetadores viram e ouviram, o governo ainda está sético quanto a credibilidade do homem que surgiu do nada.
– vejam o que diz a palavra do senhor ; - Génises . ©1 No princípio criou Deus os céus e a terra.
2 A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.
3 Disse Deus: haja luz. E houve luz.
4 Viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas.
5 E Deus chamou à luz dia, e às trevas noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.
6 E disse Deus: haja um firmamento no meio das águas, e haja separação entre águas e águas.
7 Fez, pois, Deus o firmamento, e separou as águas que estavam debaixo do firmamento das que estavam por cima do firmamento. E assim foi.
8 Chamou Deus ao firmamento céu. E foi a tarde e a manhã, o dia segundo.
9 E disse Deus: Ajuntem-se num só lugar as águas que estão debaixo do céu, e apareça o elemento seco. E assim foi.
10 Chamou Deus ao elemento seco terra, e ao ajuntamento das águas mares. E viu Deus que isso era bom.
11 E disse Deus: Produza a terra relva, ervas que dêem semente, e árvores frutíferas que, segundo as suas espécies, dêem fruto que tenha em si a sua semente, sobre a terra. E assim foi). Natália abriu a porta depois de ouvir incessantemente baterem. Quando abriu a porta deparou-se de novo com suas vizinhas. – Desculpem mas tenho visitas! – Pensamos que gostaria de saber de José – disseram-lhe. – Que tem José? – Vamos agora para lá, ouvimos que ele está a curar pessoas! – a anos que tenho uma unha incravada – declarou uma das suas vizinhas. – Vou lhe pedir que cure minha gatinha cuitadinha , sofre duma érnia a muito - afirmou a outra. – Quem era minha filha ? – As vizinhas do primeiro – murmurou Natália pensativa. – Que gentinha – resmungou seu sogro. – José dizem elas, está a curar gente . – ai Jesus – lamentou-se sua sogra colocando as mãos no rosto. – Deixem passar o senhor presidente! Inrompendo entre a multidão Bonifácio da Silva Cruzeta, o recém-eleito presidente da câmara da agora famosa terra, desejava falar com José. Ladeado por dois gorilas de fatos negros, Bonifácio homem de face bochechuda e barriga avantajada, por fim ficou face a face com José . Ele como os outros também foi alertado. José desdobrava-se em curar maleitas , bastando-lhe colocar suas mãos sobre as infermidades. Haviam gritos de felicidade, rejubilavam todos aqueles que suas mãos tocavam . Mas o intento de Bonifácio não passava por nenhuma cura, mas sim por motivos meramente pessoais. – Desculpe mestre – disse-lhe . – gostaria de ter uma conversa consigo – acrescentou. – Não te preocupes, serás reconhecido e serás no futuro dos políticos mais afamados.Bonifácio ficou de queixo caído. – mas que raio, como ele soube que vinha falar de política – perguntou-se. José leu seus pensamentos. – mas para que no futuro tua vida te proporcione inúmeras riquezas, uma coisa terás ainda de fazer – declarou-lhe José de olhos na sua bolachuda cara. – o que tenho de fazer , mestre? José abriu os braços e rodopiou sobre si, e exclamou: - é aqui que quero construir minha igreja! - São terras que não pertencem a autarquia ; - Essa é tua missão ; - Como faço , mestre? – Sobre tua secretária encontrarás uma planta da construção, e virá a ti um idoso de seu nome Miguel que te ofertará as terras , porquanto nelas construiarás minha habitação. – Eis que te vigio! – Mestre, quando sentiste essa força ? – Bonifácio, não queiras saber tanto quanto teu Deus; - pois vos digo, quem desejar, ambicionar saber mais ou tanto que o Deus vivo, já está morto mesmo que viva. – Agora vai, e apressa-te em fazer o que te pedi – declarou José ao pasmado Presidente. Passaram-se semanas , meses e a fama de José atravessou as fronteiras e começou a ser conhecido em todo o mundo. Tal qual como José lhe dissera, Bonifácio encontrou a planta e o homem de que lhe falou também lhe havia aparecido com a oferta. Restava-lhe cumprir o que prometera. E assim foi. Nem-se haviam decorrido três meses , trabalhando dia enoite, foi erguido um edifício verdadeiramente notável tal era as suas dimensões.Assemelhava-se a um castelo medieval de quatro torres, ao centro com três andares ,elevava-se um templo .
Durante esse tempo José era rigorosamente levado ao colo pela multidão fiel a sua doutrina. Era uma doutrina que não descriminava os gueis, o sexo era pregado como sendo inerente a condição humana ,e não tabu.– não se pode fugir da carne. – como se pode contrariar a carne se ela faz parte de nós? – se deus quisesse que fizéssemos destinções , não teria nos feito diferente? - na nossa igreja , as mulheres podem pregar a palavra, os homens podem-se casar, e os gueis não precisam se refugiar por detrás duma batina ou outra farda qualquer. – todos somos iguais dentro de nossas diferenças, estados ou gostos . No entanto, José passava a noite sempre acompanhado. Foi-lhe concedido segundo ele a liberdade de ter mais do que uma esposa . ele escolhera para si as mais lindas mulheres das redondezas que de forma espontânea o procuravam com o intuito de serem suas concubinas . em tempo record e já vivendo no seu castelo pouco a pouco e cada vez mais vinha-se tornando a figura pública mais famosa de portugal. Não haviamulher que resistisse aos seus encantos, sua doutrina dia após dia cativava fieis de outras congregações. Deixando os maridos, os namorados, as mais belas mulheres entregavam-se de maneira livre e sem tabus a suas causas. Sofia foi rapidamente esquecida, Natália desde que ele saiu nunca mais trocou consigo palavra. Entretanto, os homens da ciência , fazedores de opinião, verdadeiros magos das letras , portentos da filosofia , riuniram-se com o desígnio de estudar tão inesperado fenómeno . Hora, sendo assim, José foi convidado a comparecer num programa televisivo organizado com o intuito de destrinçar , e quem sabe desacreditar o mais enigmático personagem jamais visto em portugal. Os diretos mostravam a partida de José até sua chegada ao um dos palácios mais afamados de lisboa. No trajeto, haviam centenas de milhares nas bermas acenando a sua passagem. Portugal passou a ser conhecido , não pelo Eusébio, Amália, mas sim pelo vidente milagroso, que dia após dia era notícia em todo o mundo. Os voos fretados enchiam o aeroporto da capital, a economia do país passou da extagnação a um crescimento de 4 por cento ao ano, isso nos primeiros dois anos. Uma multiplicidade de multinacionais instalaram-se no país, tudo rendia milhões num território que não a muito, era um caso perdido . Associado a esse inesperado desenvolvimento, uma profecia que duma vez por todas afastou as dúvidas de quem ainda as tinha a respeito do vidente português. Disse ele um dia; - será descoberto no centro do país rios de gás natural , e ao largo do arquipélago açoriano poços tão profundos que mesmo a longíncua árábia Saldita corará de vergonha.
Hora, tudo se concretizou. Junto do arquipélago dos açores, foi descoberto petróleo em tantas quantidades que o governo português não dava escoamento a tanta proposta de exploração. No ponto mais central do país, descobriram no subsolo rios de gás natural que fizeram do Katar , Argélia , e Rússia produtores insignificantes . Nostradamos se fosse vivo era um mero aprendiz. Suas previsões eram tão precisas que muito poucos se davam ao luxo de duvidar. Mas existiam .
- como era ele no trabalho? – o menino José era uma joia de pessoa. – muito prestável, e amigo do amigo. – agora estamos no gabinete do vereador da habitação e como todos os outros funcionários, nos afiançou de sua dedicação ao ofício, e conhecimento além da sua função. – era óbvio que tinha mais faculdades que a maioria , sobre minha secretária estava repleta de propostas para o integrar noutro departamento, com um ordenado mais compatível com sua inteligência..– como os senhores jornalistas sabem, a crise depois de nossa saída da comunidade europeia agudizou-se. Tinham passado vinte anos depois de portugal e outros países terem sido literalmente expulsos do projeto europeu onde permaneceram somente os povos que gostavam de trabalhar, filosofia nórdica; - nesse contexto, era-nos impossível satesfazer não uma ambição sua, mas um gosto nosso.– e que acha dos poderes do vidente José. – acho que o país só se deve orgulhar de ter no seu ceio tão iluminada personagem, pois ele fez do nosso país um dos mais reconhecidos do mundo, bastando-nos 4 anos apenas. – não fora suas previsões, motivo que nos fez iniciar as prospeções, tudo estava na mesma.– acho também , que toda a sua igreja deve seguir a risca suas causas, pois ela foi motivo de prosperidade. – o senhor acredita nele? – claro que sim. – não só eu, mas toda a minha família! – é evidente que todos nós andávamos na escuridão. – muito obrigado por nos conceder esta intrevista. – como os senhores telespectadores viram e ouviram, não existe ninguém que diga mal do nosso vidente. – Márcio Martelo, em direto para a TVZ. José sorriu quando a reportagem terminou, no local de sua antiga profissão , aliás função que exercia mas não gostava. A mairoria de seus antigos colegas eram petulantes mal-educados e sobretudo um bando de calinas. Mas José levou toda a reportagem sorrindo, não lhe valia de muito contestar , estava no passado. Premente era o confronto que se avizinhava , ele o sabia.
Ele estava rodeado de altas personagens do estado, das pessoas mais inteligentes e cultas de portugal. Aquele programa fez parar o país. Não existia ninguém que não estivesse defronto a tv. Entre elas, Sofia que depois da noite de lucura não havia conversado mais de cinco minutos com ele . Quando o procurou no seu harém, recebeu como consolo um sorriso, e meia dúzia de balelas . José , era evidente estava noutro patamar . A razão para a qual ele a procurou , e quis consigo fazer amor, ainda não descobriu. Foi evidente depois da noite de sexo que ele procurou incessantemente algo,pelos vistos não o conseguindo. Mas para Sofia, que desde essa noite ficou reavivada do amor até então hibernado , as coisas não ficariam por meia dúzia de coitos. Estava nos seus horizontes tentar descobrir as razões para as quais ele procurava incessantemente fazer filhos. Hora, a charmosa Sofia averiguou quais as maiores auteridades espirituais do país das várias congregações. Que se lembrasse seus pais não eram crentes em nada, sua crença passava pelo trabalho e laser somente. Nossa religião é a seriedade, honestidade , e a benignidade – costumavam dizer-lhe. Hora essa triliogia acompanhou Sofia durante sua infância e juventude. Não fariam eles muito melhor do que alguns que se proclamavam crentes? Sofia entedia que sim. no entanto,a religião cristã vivia tempos difíceis , seus fieis pouco a pouco esfumavam-se, todos rumavam para a recente formada igreja onde José se auto-proclamou de de bispo ungido . O que outrora era um país maioritariamente católico, vinha a se tornar no quartel general da nova igreja, que havia arrecadado para seu ceio mais de noventa por cento dos fieis do território. Era evidente também, que algo teria de ser feito, não porque os fieis debandaram, mas porque estava claro para os outros chefes religiosos que ele não passava dum mero pião nas mãos de santanás. Todavia,José contrariava com uma argumentação bem estruturada e sempre a luz da bíblia . Dizia-lhes: - eu fui escolhido não para praticar o mal , mas sim dar consolo e bem estar ao povo; - – o que está enrado nos meus atos que vos infurece; - Não fizeram vossos antepassados a Jesus o mesmo que congeminam contra mim?
- oiçam e vejam os prodígios do senhor – clamava José por todo o lado. – fui eu que fiz tudo isto? – não, eu sou um simples prossecutor da vontade do meu amo e senhor . – quem me pode acusar de fazer o mal, ou de incentivar o que não está certo? - Ele fala como fosse Cristo! - é um pagão comandado por o diabo! Não podemos ficar parados vendo santanás abarcar para si o povo de Deus . Hora, todas estas meditações e o mal-estar no ceio da cristandade exaltavam os íntimos mais fracos. Criaram-se fações dentro da igreja, o fundamentalismo assomou com naturalidade. Contudo, haviam aqueles que se regiam pela vontade de Deus, segundo sua Geração . No entanto, a charmosa Natália tudo ouviu e viu através da tv. Sua barriga estava enorme . Mas isso era segredo , mal constatou que estava de esperanças, de imediato rumou a sua terra natal. José pelo aquilo que a fez sofrer, por aquilo que andava a fazer, por tudo o quanto a fez passar não saberia da existência de seu filho, até porque algo lhe dizia que ele não aceitaria. Recordou-se inumeras vezes do dia que ele lhe disse que não lhe daria um filho, no entanto, fez dúzias deles. A razão para a qual assim procedeu não sabia, todavia, criará sozinha seu filhote.Muitas o amavam, todavia sabiam que ele não amava só uma, mas sim era homem de muitas mulheres , seguindo ao que achava ser a disseminação duma nova geração de pessoas , e onde elas proclamariam um novo dogma . A pedra de toque era o amor pelo próximo, onde o próximo poderia ser seu amor . Não haviam descriminações clubísticas , raças, defeitos. Todosestariam abilitados a serem parceiros sexuais, fossem de que cor fossem, ou categoria. A bíblia foi parcialmente rescrita , pois segundo ele , deus havia feito um pacto com santanás, dando-lhe a possibilidade de formar sua própria igreja. - se assim não o fosse, que sentido tinha o acordo ao quando da passagem bíblica do livro de Jó. Era evidente que santanás foi autorizado a ter poder sobre as pessoas, contrariando a obra de deus. Seria um jogo? Estaria os humanos a ser vítimas dum jogo de interesses? O vidente José achava que sim.Contudo, ele tinha escapatória para o que chamava do juízo terminal, onde as duas forças mais poderosas , os espíritos mais iluminados se confrontariam no dia d. No entanto, para José, os humanos eram obra falhada, pois santanás durante os séculos arrecadou mais do que o próprio criador. – a que combater as falhas com uma igreja unida, onde todos serão um ,independentemente da cor da posição, ou do defeito. O programa foi-se desenrolando lentamente , José era bombeado por perguntas que para o comum dos cidadãos seriam no mínimo embaraçosas . Um dos comentadores mais populares da tv , reconhecidamente um homem super inteligente e um mago no âmbito político, colocou-lhe uma questão; - segundo a bíblia é pecado cobiçar a mulher alheia - afirmou. Pegou num papel que estava sobre a mesa no estúdio e prosseguiu; - aqui está uma passagem da bíblia que revela o contrário que você anda praticando . José olhava-o com comtemplação . – êxodo 20 , diz assim a palavra de Deus; - não cobiçarás a casa do teu próximo , não cobiçarás a mulherdo teu próximo , nem oseu servo , nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo. – dito isto senhor bispo , que tem a me dizer , pois que saibamos você vive rodeado de mulheres e tem um filho de cada. – você falou bem sim senhor – replicou José sorrindo-lhe. – contudo, trouxe-me somente parte do texto da bíblia . – porque não me leu desde o primeiro versículo? O comentador ficou de olhos estáticos , mas mesmo assim respondeu-lhe; - eu vim cá não para ler a biblia toda, mas sim tentar o confrontar com suas atitudes. – minhas atitudes? - quais, aquelas que fizeram deste país umgrande exportador de petróleo? – ou aquela que disse que debaixo do nosso nariz havia rios de gás natural ? o professor de direito , mas mais conhecido pelos comentários aos domingos numa das televisões mais vistas , sorriu dizendo: - Se eu disser agora aqui que amanhã cairá a ponte sobre o tejo, e isso acontecer , que me chamarão no dia seguinte?– José olhava-o do outro canto da mesa . Osrestantes escutavam com redobrada atenção professor Anselmo ,de todos o mais perspicaz. – Não me vai dizer que eu também sou profeta, pois não? – Quando aqui cheguei – começou por lhe dizer José. – Eu olhei para si , e senti que seria hoje mesmo que sua reputação seria jogada na lama. – Não me diga que é por o confrontar? – Não , não meu amigo – replicou José . José pegou na sua bíblia que estava sobre a mesa e desfolhando-a leu: Mateus 5 . 43 Ouviste que foi dito : - Amarás ao teu próximo , e odiarás ao teu inimigo. 44 - Eu, porém,vos digo : Amai aos vossos inimigos , e orai pelos que vos perseguem. 45 - para que vos torneis filhos do vosso pai que está nos céus ; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons , e faz chuver sobre justos e injustos. Os presentes no estúdio ficaram mudos e em sintonia baixaram os olhos. – pois bem professor – prosseguiu José brandamente . – Eu não sou seu inimigo, pelo contrário ; - mas também digo-lhe; - eis que aqui hoje, revelarei sua devassidão. O reconhecido comentador estava notariamente evaidecido, pois havia colocado o afamado vidente, profeta ou lá o que fosse entre a espada e a parede.
Para Anselmo ele não passava dum grande charlatão como fora em tempos alves dos Reis. – Que pode você dizer de minha vida? – de que devassidão fala? José pousou a bíblia sobre a mesa e fechou os olhos. Então quando abriu us presentes constataram um brilho diferente , seu rosto fechou-se e sua boca estava ligeiramente aberta. Sendo assim, disse-lhe José : - O seu catolissismo e sua fé são como poeira ao vento . – no mesmo livro da bíblia lê-se lá o seguinte: -Então falou Deus todas estas palavras ,dizendo :
2eu sou o senhor teu Deus , que te tirei da terra do egito , da casa da servidão .
3 não terás outros Deuses diante de mim .
4 não farás para ti imagem esculpida , nem figura alguma do que há em cima no céu , nem em baixo na terra , nem nas águas debaixo da terra . O comentador fez cara de desntendido, e replicou; - e então, que quer-me dizer com essa passagem? – olhe meu amigo , no mesmo capítulo, temos duas coisas importantes e que nos servem de argumento . – portanto, que acha que quis dizer? - quem faz aqui as perguntas sou eu – retorquiu o professor . – ah sim – disse-lhe josé olhando para o pivô. Recebendo um olhar de comprovação prosseguiu; - tudo bem, eu respondo . – eu não cobicei a mulher do próximo porque o próximo são todos aqueles que acreiditam no que falo. – você está a prefaciar Jesus cristo! - não, quem sou eu perto do príncipe dos céus? – estou a falar por meio da fé somente. – Jacobe com todo o seu amor por Deus também teve várias mulheres como outros profetas ou servos do senhor. – nosso senhor também nos disse; - eu sou . – portanto , Deus não mudou como não mudou sua palavra . – mas desde a vinda de Cristo isso foi mudado – argumentou o professor com segurança. – poderá ter mudado as regras mas não a fé. – eu sou umgido do senhor por isso é-me concedido todas a mulheres e proveitos na terra! - não vos anunciei maravilhas , prodígios ? - isso é blasfémia! José indignou-se com ele. olhando-o com incisão , gritou-lhe; - blasfémia? – que faz você com sua mulher? No estúdio ouviu-se algumas tossidelas, e baixaram-se de novo as cabeças. – não entre por aí , eu não tenho nada a esconder , sou um livro aberto . –um livro aberto ?… - O professor não passa dum humano tão insignificante e frágil como qualquer incógnito cidadão; - sua mulher conhece Marlene? O rosto do comentador ficou encarnado. – que quer dizer bloco 3 primeiro esquerdo torres de lisboa , rua afonso primeiro código postal 4785-874 lisboa? O desconforto foi de pronto patente na face do comentador. pois muito bem - não me venha com falsos moralismos , julgando-se ser dono da verdade; - Até que, no que concerne a erudição você sabe menos do que qualquer anjo no céu. José prosseguiu e seus olhos não saíam de cima de Anselmo que entretanto baixara a cabeça. Mas ele sabia que seu orgulho seria um entrave , ele nunca lhe pediria que se calasse . – Pois bem, continuou José: - além de ser um falso crente e mostrar-se benevolente em todas as suas ações, na verdade digo-lhe, não passa dum falso e dum hipócrita. - por favor não avancemos nesse assunto – intrometeu-se o pivô verificando que o professor ficara visivelmente perturbado. Mas José recebera ordens superiores para desacreditar o petulante. – qual é a cambra? – aquela que tem a luz vermelha – retrocou o moderador do programa. – pois bem meus queridos irmãos – declarou José olhando para a luz vermelha. – vim cá convencido que seria no mínimo felicitado por trazer a este país a boa nova, mas não. – fui violentamente atacado por um homem que se diz e rege por os padrões mais puros, e vai-se a ver, trai sua mulher a uma desena de anos com sua secretária Marlene ,a qual lhe foi ofertado um belo apartamento e um luxuoso carro . – se isso já não bastasse – continuou José de voz auterada . – todos os anos mente a sua esposa quando lhe diz que vai ao brasil em trabalho. – mentira! – o hotel vale paraízo tem um quarto de casal reservado para o prevaricador e sua linda secretária Marlene que está farta de pedir que se separe de sua esposa . – é este homem que querem como exemplo? – é este homem tão culto , inteligente , mas que se ajoelha perante umaimagem feita de barro e reza de olhos fechados? - que pede ele a estátua? – eu digo-vos, nada! – ele vive de holofotos , máquinas fotográficas, revistas cor de rosa, sabem porquê? – porque tem um ego maior que sua alma! - não, eu não vim cá para condenar quem quer que seja, mas não posso aceitar que um pobre de espírito , uma alma em convulsão me diga o que tenho de fazer. Quando o programa terminou José foi quase agredido pelo professor que viu sua vida destruída numa hora de programa. A fama de José saiu ainda mais reforçada quando findou o debate. No exterior dos estúdios reuniu-se uma multidão a espera de bispo José. – é verdade que em tempos eu fui um mero telefonista , é verdade – clamou José mal colocou os pés no lado de fora . – Pedro, João, Tomé, Tiago, André, e os restantes o que eram e o que faziam? – porque se tem de avaliar a fé pelo hábito ? – não será o roto dotado de coração? – uma coisa vos digo , quanto mais sabedoria, quanto mais perfume, riquezas, mais o coração enegrece . – não colocou o espírito santo palavras sábias nas bocas dos apóstolos? – porque duvidam de mim! Nesse dia José sentiu todo o apoio da população, que depois do programa entendeu prestar culto ao seu milagreiro. Mas ainda ouviram mais da boca de bispo José ; - e quanto as mulheres, não me perguntam nada? – mas eu vos digo. – na minha igreja a mulher será rainha, não um mero objeto sexual. – terá a liberdade de escolher e amar quantos homens desejar, colocando-as no mesmo patamar porque na minha igreja não heverá dinstinções! . José olhou para a multidão e prosseguiu; - existe mais alguém que me queira interrogar sobre algo? O povo ficou gritando seu nome com entusiasmo .– na verdade vos digo, todos vocês aqui presentes antes de apontar o dedo a quem quer que seja, comprem um espelho de corpointeiro e coloquem-se defronto e façam a seguinte pergunta; - quem sou eu? – serei melhor que meu vizinho? – posso descansar com minha cabeça sobre minha almofada e exclamar; - tu és honesto , íntegro, fiel, e bondoso? – se o espelho refletir um semblante tranquilo , umaface sorridente, e se vossos olhos brilharem de satisfação, podem todos me criticar que eu aceito. – mas também vos digo, está para nascer depois de Jesus quem isso possa dizer. – não encham vossas bocas com palavras vãs. – sejam humildes e quando o amor for verdadeiro sentirão . – ele é como o sol da manhã, vem de mansinho e aumenta de intensidade a medida que o dia decorre. – é assim o amor. – ele não se confunde com paixão, meras atrações físicas. – o amor é dos sentimentos o mais abrangente, tudo se pode amar. – ama o agricultor sua terra, o pescador o mar que lhe dá o sustento. – ama todo aquele que é contemplado pelo espírito de Deus, mesmo que superficialmente diga que não crê. – não, Deus está em todos nós. – não se pode negar uma evidência tão sumptuosa , não se pode fugir nem desaprender o que está incrustado em nós , é intrínseco , está na nossa essência. O que era para ser um programa de confronto de ideias, esclarecimentos, transformou-se numa das mais grandeosas pregações de José.
Hora, depois do programa terminar e de José ter pregado para o povo , foi conduzido para seu castelo . No dia seguinte gerou-se no país uma discussão , não sobre a doutrina de José, mas sim das facadas no matrimónio dos famosos. Houve contratos quebrados, ninguém queria comentadores que frente as cambras divulgavam paradigmas comportamentais como fator duma sociedade desenvolvida, e por detrás , não eram nem mais nem menos que simples seres vulneráveis. No entanto, para os líderes religiosos, o que José proclamou como ser o correto, não passava duma forma ardilosa de santanás congregar cada vez mais gente. Era evidente também, que ele era um profundo conhecedor da bíblia, e por isso retirava do livro sagrado só que lhe interessava. A questão impunha-se; - quem lhe fazia frente. O povo estava verdadeiramente ébrio pelas suas palavras, e não haviam perspetivas de mudanças, pelo menos a curto praso. Com alguma naturalidade, tal era a fama de José,o papa líder máximo da igreja católica que, vinha definhando convocou-o para uma reunião no vaticano , a qual José respondeu com satewsfação. Seria uma conversa entre líderes religiosos sobre o rumo que o mundo estava a levar e não sobre os caminhos que as diversas igrejas cristãs seguiram depois da morte de Jesus cristo. Pio 31, sabia da aversão do bispo português em relação a adoração de imagens . Era quase impossível não tocar nesse assunto e, ele estava preparado . O mundo estava de olhos na cimeira . O estado mais pequeno do mundo ficou de imediato repleto de jornalistas. José aterrou em itália com honras de chefe de estado, o governo transalpino não faltou ao protocolo de boas-vindas. Guiado por um batalhão de polícias , montados nas suas motos, chegou ao vaticano uma hora depois. O povo italiano, o país da bota, estava nas ruas , eram aos milhões . o prodigioso veidente português era chamado de santo a sua passagem , e colocavam-lhe no trajeto pessoas doentes, simples deprimidos, até infermos animais . Foram muitos curados .
A praça de S. Pedro estava pejada de gente , todos tinham enorme expetativa sobre a tão famosa reunião.Todavia, o encontro decorreu a porta fechada , durou mais de três horas.Quando José saiu, foi literalmente engolido pelos maxmedia, que obtiveram somente uma frase; - foi uma conversa de irmãos. Ele não os enganou. Conversando com o líder máximo dos católicos debateu inúmeros assuntos , problemas que os afligia . Estava-se no ano de 2034 e a população mundial vivia uma devastadora falta de fé. Novas maleitas surgiam todos os dias, novos viros extremamenteinfecciosos devastavam milhões de pessoas. A sida perto dos viros que surgiam diariamente era um mero detalhe. O planeta outrora chamado de planeta azul, vinha-se transformando num antro de depravação. Matava-se por tudo e por nada, os filhos não respeitavam os pais e o seu contrário. Falava-se de tudo menos do bem ao próximo , insentivava-se ao sexo desde quase o berço. Não estaria na hora da vinda de Jesus?
Jesus Cristo havia pressagiado que apareciriam novos profetas , milagreiros e outros que tais. José foi confrontado com essa profecia, o papa ffez questão de lhe lêr : - Mateus : 24. – diz assim a palavra de Deus;23 se, pois,alguém vos disser: Eis aqui o Cristo ! ou : Ei-lo aí ! Não acrediteis ; 24 Porque ão de surgir falsos Cristos e falsos porfetas , e farão grandes sinaise prodígios ; de modo que,se possível fora , enganariam até os escolhidos .25 Eis que de antemão vo-lo tenho dito .
26 portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto ; não saiais ; ou : Eis que ele está no interior dacasa ; não acrediteis .
27 porque ,assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente , assim será também a vinda do filho do homem . O papa olhou o bispo José que se manteve pávido e sereno escutando a palavra de Deus. Estava com suas mãos sobre suas pernas e parecia compenetrado no que ouvia. Então baixando a cabeça de novo insistiu o santo padre;
28 Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres . 29 Logo depois da tribulação daqueles dias , escureceráo sol , e a lua não dará a sua luz ; as estrelas cairão do céu e os poderes dos céus serão abalados . 30 Então aparecerá no céu o sinal do filho do homem , e todas as tribos da terra se lamenentarão , e verão vir o filho do homem sobre as nuvens do céu , com poder e grande glória. – sabe sempre bem ouvir a palavra do senhor – exclamou josé alegremente. Mas Pio 31,permaneceu mais um pouco de olhos na bíblia .– Então ouviu de José: até o coração dos mais umgidos tem suas dúvidas – comentou José. – são dúvidas plausíveis depois de que acabei de lêr não acha – replicou o papa levantando os olhos . - posso lhe responder de duas maneiras ; Porque eu? Ou: porque não? - Deus na sua infinita bondade e glória muitas vezes se intristeceu por nós ; - porque não , repito-me . – é evidente que o bispo tem o dom da sabedoria , suas palavras sãocobertas de ouro, tudo em sua boca brilha . – No entanto impõe-se a pergunta ; - quem é você e o que quer do povo de Deus? – oiço uma voz que me diz: - Eis que estou contigo ; - por vezes essa mesma voz fala-me : - todos os livros, toda a ciência te será atribuída; - que posso eu mais lhe dizer? Os olhos do santo padre devagaram por seu rosto esperando algo. E então José começou a falar: - quem sou eu para dizer que sou, ou não sou. – simplesmente vivo abarcado por um espírito que me diz que fazer . – se ele diz-me faz isto , eu faço. – se ele me diz , virão tormentos, eu anuciu . – portanto sou um mero ser comandado pela força divina do senhor . – não me cabe a mim colocar em causa o que me abrange, até porque o que faço é bom para o povo. O papa ainda lhe perguntou; - já pensou que poderá estar a ser ludibriado pelo anjo caído? Ao qual José respondeu: - Nas minhas orações por vezes ponho em causa tudo até essa dúvida; – mas quando abro novamente os olhos, meu coração sente-se feliz, presumindo eu que estou no caminho certo. No entanto, e como Pio 31 suspeitava , nãoseria ele só a ter dúvidas ,recomendações, pontos de vista, advertências; ,. José como sempre foi duro nas palavras e insisivo na argumentação. – que sente um líder religioso quando sabe que prevarica? – como bem sabe não existe rocha, pau, plástico, esponja , ou qualquer outro material que faça milagres , então porquê? Respondeu-lhe calmamente o santo padre: Tudo isso sabemos, mas também sabemos que olhar para uma imagem somente como trampolim para chegar a Deus , certamente ele não nos condenará . – porque sois como Tommé? – ele só acreditou vendo . – que seria dos ivisuais! tarde de mais – replicou o santo padre. – o que aceitamos, não quer dizer que pratiquemos . – são aos milhares em todo o mundo os católicos que não acreditam nas imagens. – somo uma congregação abrangente que agrega no seu ceio diversas e múltiplas formas de fé . – Múltiplas? – Não haverá só fé, e nada mais? – Haverá sim, maneiras , formas díspares de a exteriorizar – rematou José .– Temos pontos de vista diferentes irmão, que não quer dizer que somos mais ou menos filhos do altíssimo – disse-lhe o papa.não perdoará Deus o homem , a mulher que através duma imagem fala em seu nome? – não será benevolente nosso criador com todos aqueles que vivem uma vida longe de sua face ? José contrapôs: - recorrem vocês as escrituras quando vos surge alguém com o poder de cura, no entanto, são municiadores de atos que vão de encontro ao que Jesus apregoou e divulgou ; - será por medo ? – porque são vocês vestidos de alvas roupas e os interiores sujos como a lama dos dias de chuva? não andarão vocês a levar almas ao inferno? O papa olhou-o com brandura e exclamou; - não andará o bispo a levar o mundo todo ao inferno? - eu faço com que coisas aconteçam<! – não terá santanás esse poder? José pela primeira vez não soube o que responder. Para o papa era óbvio , evidente que José estava incorporando outro espírito todavia, não sabia qual . Segundo as escrituras, Jesus e só ele poderia fazer tais coisas, e ele não era Jesus até porque ele havia dito que não pisaria terra no seu regresso. O papa orou pela alma de José pedindo a Deus que o faça refletir e que lhe toque ao coração. – oh meu Deus eu estive perante nosso inimigo, só tu oh Deus, rei dos reis, senhor dos senhores, criador dos céus e da terra poderás o salvar. No pináculo do templo quando José se preparava para sair , eis que se ouviu um grande estrondo, e a multidão temeu pela vida. O céu escureceu , ficou como a noite de lua nova, o vento suprou com veemência . Ouviu-se gritos por toda a praça de S. Pedro caíram do firmamento enormes pedras de gelo que se assemelhavam a bolas de golfo. Não era época de chuvas, muito menos de granizo. Estava-se no pico do verão, o calor reinava . Por esse facto, as gentes clamavam a deus e associavam o fenómeno ao encontro dos mais poderosos líderes espirituais. Mas mal José surgiu a porta do templo , subitamente o sol apareceu e as negras nuvens recuaram de súbito. – Eis que vem aí nosso milagreiro – gritaram todos .
José quando regressou a portugal já lhe esperava um dos seus súditos com a notícia que o presidente da cambra havia falecido inesperadamente e contra todas as probabilidades . – o homem parecia de ferro – disse-lhe o colaborador um jovem de apenas trinta anos e que se havia convertido a muito a doutrina . – eu sei – respondeu-lhe José. O moço ficou perplexo , porém, tratando-se de bispo José resignou-se . – não se deve quebrar um pacto – comentou caminhando do lado do jovem quandoabandonava o aerorporto. José na viagem teve uma visão. Viu o presidente sentado a uma mesa rodeado de outros homens engravatados e riam-se , riam-se muito. De repente faltou a luz, e uma labareda susteve-se sobre a cabeça do presidente. Então ouviu uma voz que dizia ; - ex que aqui tu mesmo proferiste tua sentença . Quando a labereda desapareceu o presidente viu-se sozinho num campo coberto de esqueletos . Ao centro estava um monte de ouro do lado um homem de vestes negras e de cabeça tapada . Trazia na mão uma lança que brilhava como prata acabada de sair do forno, e bradava; - assim foi tua sentença ; - subitamente vindos do nada apareceu duas enormes bestas, metade lobo, metade leão. Ele queria correr mas suas pernas não lhe obedeciam . Então começou a gritar ; - perdão, por favor suplico vosso perdão. Tarde demais. José visualizou opresidente ser despedaçado em mil bocados e seus restos mortais colocados do lado do ouro onde o aguardava o fantasmagórico personagem de capucho na cabeça e sem rosto. Mas naquele dia não era só a notícia da morte do presidente que o aguardava . A sua espera sentado na sua magnifica sala de 50 metros quadrados mobilada com pompa e circunstância , e rodeados de lindas raparigas que se desdobravam em lhes proporcionar bem estar e conforto, o Cardial português de seu nome Geremias, era só o mais destinto membro da igreja portuguêsa , o chefe máximo . Aguardava impacientemente pelo bispo José . Ele fazia-se acompanhar por um homenzinho de baixa estatura , calvo , cheio de rugas e semblante assustado. Não media mais de um e meio de altura, e sua magra cara indicava que não deveria comer a mais dum mês. Porém,não era isso que se passava. Romeu era um velho padre de 95 anos de idade. Na sua busca constante por alguém que tivesse o dom de falar com os espíritos, foi-lhe indicado Romeu que havia passado toda a sua longa vida expulsando demónios. Retirado do sacerdócio a muito, porém, nunca deixou de exercer o que o fez famoso no interior do país. O povo dizia que só seu olhar fazia o diabo tremer de medo. Olhando-se para sua figurinha ridícula , diria-se estar perante um personagem dum qualquer conto de Júlio Verne. Todavia, Geremias certificou-se que ele era mesmo uma alma contemplada com o dom de falar com os demónios e com o poder de expulsá-los. Foram vários meses de testemunhos, conversas com as vítimas do diabo, e passagens verdadeiramente orripilantes. Tudo o que recolheu, todas as conversas, levaram-no a concluir que na verdade o velho Romeu era dotado do dom de expulsar demónios. Se persistisse alguma dúvida foram definitivamente decipadas. Pouco tempo antes de concluir as investigações, Romeu foi chamado a casa duma sua antiga ovelha que segundo ela lhe disse ao telefone seu neto estava possuído . Hora, Geremias viu nisso a grande oportunidade de ver em acção Romeu, agradecendo a Deus a oportunidade de estar no local certo a hora certa. Tudo aconteceu num vilarejo do interior ,foram precisos mais de duas horas para lá chegar , . Depois de deambularem serra acima, debaixo duma lua cheia, abarcados por uma luxuriante floresta , chegaram a morada indicada. A casota era humilde , uma típica casa de camponeses . A sua espera estava uma velha de lenço na cabeça e de xaile sobre os ombros. O seu rosto além da patente preocupação, estava desfigurado pelos anos e árduo trabalho nos campos da imponente serra. –Venham por favor - disse-lhes ela conduzindo-os a parte de trás da moradia onde se situava o curral, lugar que abrigava o gado caprino durante as noites. Romeu perguntou-lhe porque ela achava ele estar possuído, recebendo como resposta : - Ele fala como um estrangeiro e age como um bode selvagem. Hora, para Geremias eles é que estavam a falar estrangeiro . O que ela queria dizer que age como um bode selvagem ? E porque o rapaz falava línguas? Não seria estudante e estava a praticar? Mas as respostas as suas perguntas teria-as mais tarde . Ugente era presenciar o acontecimento . Primeiro entrou ele na cozinha . Sentado a mesa ,um rapazito que aparentava não ter mais de 15 anos , olhava a tv sobre o frigorífico a um canto, e batia com os dedos sobre a mesa . Tinha cabelo curto negro, seus olhos não se mexeram a sua entrada . Geremias tossiu , mas tudo em vão ,ele parecia muito compenetrado. Era um moço de face bonita e para a idade já tinha um físico poderoso. – Olá Miguel - disse-lhe Romeu acompanhado pela velha. Subitamente os olhos do jovem mexeram-se no sentido do velho padre e deu em espumar de imediato. Suas órbitas aumentaram, e seu cabelo negro curto ficou oiriçado e da sua garganta comemçaram a sair sons desconexos. Geremias estremeceu de pavor. A mulherzinha gritava de aflição enquanto seu neto deu em estrabouchar vigorosamente depois de ter se atirado literalmente para o chão. Uma voz saiu de sua garganta; - que queres de mim homem de Deus. – sai desse corpo , ele pertence a jesus Cristo! - pai nosso que estás no céu , santeficado seja o teu nome – começou Romeu a orar com seu corpo sobre o jovem . – não, não, para – berrava o rapaz possuído. Tão depressa como começou o exorcismo tão depressa findou. – por favor dê-lhe de comer – rematou Romeu fatigado. A velha abraçou-se a seu netinho notoriamente debilitado. – vovó, que se passou? – nada meu anjo , tudo terminou – afirmou emocionada. O rosto do velho Romeu apresentava marcas de cansaço e sua respiração era ofegante e desgovernada. Eram patentes suas dificuldades depois da expulsão. Antes de descobrir Romeu, Geremias foi visitado por Sofia que o procurou afim de averiguar o que a igreja entendia fazer quanto a José. Não lhe foi fácil entrar a conversa com ele. O outrora estimado líder, vivia um verdadeiro pesadelo. Não estava para grandes reuniões, seu objetivo era desacreditar o homem que num ápice esvaziou todas as igrejas do país. O santoário de fátima estava as moscas, todos rumavam não para a cova de iria, mas sim para o castelo que José consturiu e que chamava de morada divina. Mas quando lhe disseram que a rapariga não era nem mais nem menos que uma antiga namorada de José, ele viu nessse encontro uma possibilidade única. – se ela me procura , certamente terá algo para me contar a seu respeito ! - façam com que entre – ordenou a um dos seus súbditos . – D. Geremias era um cardial que o povo em tempos amava. Não por ser simplesmente o chefe máximo da igreja no país, mas porque era sobretudo reconhecido por suas obras de caridade, um verdadeiro amigo dos oprimidos. Contudo, sua idade já avançada, não lhe permitia grandes caminhadas como no passado, onde percorria o país de lés-a-lés. Nos últimos tempos tinha se redobrado em reuniões com os líderes das outras assembleias cristãs , todavia nem eles nem ele sabiam como começar, e o mais difícil ,por onde começar! O rapaz não tinha rabos de palha. Seu passado humilde, não lhe progedicava, pelo contrário. É verdade que era muito nnamoradeiro, mas na sua idade, e com a figura que tinha , nada mais normal. Quanto a seus pais, Geremias pouco podia falar, eram sobretudo pessoas simples e que haviam levado uma vida de sacrifícios. Entendia que se houvesse algo por onde pegar, seria no que proclama e não em sua vida pessoal. Sofia foi conduzida por um longo corredor de chão axadrezado que se assemelhava a um jogo de damas. No fundo uma grande porta envernizada tinha um letreiro com o escrito: - Cardial. O rapaz que a guiou abriu-lhe a porta e anuciou Sofia como senhorita. –
entre minha filha – declarou Geremias do fundo por detrás duma grande secretária branca. Nos cantos do escritório, em cada um havia uma imagem dum santo, sobre suas cabeças um candeeiro em forma de cruz. O chão era alcatifado, havia uma fragrância que lhe pareceu estar a calcar flores silvestres. Geremias estava vestido de fato negro, e seu cabelo branco e com algumas clareiras confundia-se com o alvo da secretária. Ele tinha um rosto simpático, Sofia notou um delicado tremilicar no lábio inferior. Seus olhos mantinham o azul vivo doutros tempos, sua voz era calma e cadenciada. – diz-me minha querida que quer de mim? Sofia esboçou um sorriso. Aquele homem transmitia-lhe paz. – acho que tenho algo que vos pode ajudar – começou por lhe dizer. – vos, do que fala a Sofia? - eu fui amiga dele e bem … - tivemos também uma fogaz relação – comentou baixando os olhos. – vejo que a Sofia está desiludida – replicou-lhe Geremias. – eu só gostava de perceber o porquê de ser ele . – fala do bispo José? – isso soa tão mal – retorquiu. – o que soa mal ,, eu chamá-lo bispo? – sim isso. – não será ele uma pessoa umgida? – um escolhido, não sei … - mas escolhido por quem? Geremias fixou seu olhar nos lindos olhos castanhos de Sofia. – minha querida, seja ppor quem for, não deixa de ser um homem abarcado por um espírito poderoso. – merece nosso respeito. – o diabo também respeita Deus. – na noite que houve aquele enorme temporal , que ele prognosticou , fui procurada por ele - comentou Sofia. Geremias mostrou-se interessado. Provavelmente aquilo poderia ser o fio da meada. Primiu um botão, segundos depois surgiu o moço a porta. – Carlos, por favor trás-nos dois cafezinhos , quer não quer? Sofia acenou em concordância. Sim senhor – respondeu o jovem . – mas ponha-se a vontade e conte-me tudo dessa noite , não se acanhe se tiver de narrar pormenores íntimos. Sofia pensou: – como ele adivinhou? – ele chegou todo encharcado , chuvia torrencialmente . - Depois de lhe dar roupa seca, fiz-lhe um chá e fomos para minha sala de estar, e … - prossiga Sofia, o sexo é a coisa mais natural do mundo – declarou Geremias sorrindo-lhe. – ele disse-me que desejava que eu fosse sua mulher, e disse com tal convicção que até parecia que sabia que eu iria ceder. – e cedeu não foi? – sim, cedi. – eu acho que sempre o amei , mas a vida sempre nos contrariou – acrescentou . – como era ele consigo? – posso? – sim , entra Carlos – desviou a atenção o cardial . – coloca aí sobre a secretária que eu mesmo sirvo a senhorita Sofia. Depois de sair o empregado, Geremias fez questão de servir o café. Minutos depois, e mais a vontade, ela continuou: - eu por norma era inflexível nesse campo. – mas, fui atingida por uma súbita vontade de me entregar. – nunca me havia acontecido. – mas com ele , era um sonho antigo e bem, aconteceu. – no quarto, como dizer isto … - no quarto – repetiu Geremias. – oiça Sofia, faça a parte que está a falar com uma amiga íntima , tudo bem? - vou tentar – afirmou. – ele pareceu-me um bicho. – era brusco em todos os gestos, deu-me a sensação que não era ele que fazia amor comigo, mas sim outra pessoa, um ser estranho, parecia um animal no cio . Embora nunca tivessse feito antes amor com ele, tinha quase a certeza que ele normalmente não se comportaria daquela maneira tão , digamos, animalesca. – lembro-me de lhe ter pedido que fosse mais meigo, recebi em troca um rosnido e mais vigor ainda.– - recordo-me de lhe ter dito quando as dores assomaram: - Por favor , tens de ser mais brando! Aquilo não era normal . No entanto, tudo passou , e quando eu pensava que ele estava exausto , fui literalmente violada repetidamente , ele movimentava-me como fosse eu um fantoche . Fui quase obrigada a ceder atodas as suas fantasias , pois já não fazia amor por prazer mas sim por medo! Ele assustava-me , acho que ninguém faz amor daquela maneira. Sofia baixou a cabeça . Geremias olhava-a com complacência . Você gosta dele , não é? – Sim, agora sei que gosto dele - replicou de voz dividida.––– - Se desejar podemos parar por aqui – entreviu Geremias. – Não eu vou lhe contar como era ele antes de ficar , como ei-de dizer … - Possuído? - Sim , isso. – Acho que é a melhor designação – acrescentou Sofia. Levantando-se e começando a diamolar pelo escritório , narrou : - José era muito divertido, mas depois de seu casamento pareceu-me ficar diferente. Geremias acompanhava-a com os olhos, e contentava-se de estar na presença duma mulher verdadeiramente magnificente . Ela havia se vestido com alguma formalidade, pois tinha esperança de ser atendida. Trouxe um despretensioso longo vestido verde azeitona que lhe dava pouco abaixo dos joelhos, calçava umas sandálias da mesma cor , e nas orelhas os brincos armonizavam com o conjunto. Nos lábios um ligeiro tom de rosa, um pouco de rímel nas pestanas. Tudo isso davam-lhe uma beleza exótica. Hora, Geremias não ficou indiferente . – Conhecia José a cinco anos meio por acaso. – Recordo-me daquele dia com saudade. – Como sempre ele descutia com um passageiro, nomeadamente uma rapariga . – Segundo percebi ele chamava-a de mal-educada . – Acho que a rapariga mastigava de boca aberta, e se isso já não fosse só por si falta de educação , fazia bolinhas com a pastilha com a boca e rebentava-as mesmo a sua frente . – Ainda lembro-me de algumas de suas palavras: - O comboio está cheio, entraram e saíram centenas de pessoas, mas só uma não se apercebe do ridículo que oferece . – Valha-nas nossa senhora dos aflitos! Geremias viu Sofia esboçar um sorriso enquanto andava dum lado ao outro no gabinete. – Claro que a moça ficou picada , não havia mais niguém a mastigar pastilha. – Minha educação só a mim me diz respeito – replicou a moça agastada. – Desculpe-me, mas está enrada – respondeu-lhe de súbito José. – Sou eu e mais alguns aqui presentes que tem de levar com os viros que saem de sua boca , já para não falar do erritante barulho que faz com suas bolinhas . – Ele era sempre assim tão intreventivo? – Não havia viagem que ele não se pegasse . – Hora era por que alguém mastigava de boca aberta, ou porque alguém cheirava mal, etc . – A maioria concordava com que ele dizia, todavia não eram tão diretos, uma questão de não querer sarna para se coçarem. Sofia de repente parou junto da porta e olhou para Geremias que estava de olhos fixos nela. – Devo estar a encomodá-lo, não é? - Não se rale com isso – replicou o cardial. – Então quer-se dizer que além disso que me contou , ele era uma boa pessoa , é assim? – Uma linda pessoa , mas com defeitos como todos – retrocou Sofia sentando-se de novo e curzando as pernas. – subsiste uma dúvida , uma coisa que me vem assaltando a mente repetidamente – confessou . – Assim, e o que é - perguntou-lhe Geremias com interesse.–– Depois de tomar um banho de água quente , quando voltei ao quarto ele já estava vestido , e só me disse antes de zarpar: - Não me podes dar o que eu quero. Sofia baixou a cabeça. O cardial compateceu-se pela linda moça. Foi-se colocar do seu lado perguntando enquanto lhe oferecia um lenço de papel; – E que seria que ele queria ? - Não sei, mas vendo todos os filhos que ele fez, talvez uma espécie de transmissão de genes . Geremias levantou os olhos e ficou de semblante meditativo . Não estaria a moça certa? Não estaria Santanás a preparar sua própria descendência? Abanou a cabeça como querer afastar suas cogitações , e disse-lhe: Não se aflija, você não fez nada de reprovável ; - provavelmente foi vítima duma circunstância.– - Acha que tudo foi um mero acaso? – Eu quero querer que sim – murmurou Geremias voltando para detrás da secretária. Existe uma coisa que gostava que soubesse – declarou Sofia . – tendo em conta tudo o que lhe contei, e depois de refletir muito no que sucedeu naquela noite e seu comentário pela manhã, a dois dias pedi ao meu médico exames sobre minha fertilidade, e bem … - Eu não posso ser mãe ! - Sinto muito – disse-lhe Geremias. – Eu peço-lhe desculpa , mas não vejo conexão com que ele anda fazendo . Sofia levantou-se , passou a mão por seu cabelo curto e despediu-se : - Muito obrigado pelo tempo que me concedeu. – Vai com Deus minha querida e que o santo nome de Jesus te proteja.
Depois do encontro com o cardial , por incrível que lhe parecesse ela ficou mais calma. Ultimamente vivia seus piores dias. No trabalho já vinham notando que ela deixara de ser a rpofissional aplicada que sempre fora. No âmbito doméstico , passava as noites em claro, e os dias uma dolorosa realidade.
Naquele tempo, os Max-média Viviam seus melhores momentos , segundo eles o bem e o mal finalmente se combatiam. Por isso, e porque eles viviam de conflitos, traições, roubos, assassinatos, terrorismo, e outras pervecidades, as audiências eram as mais elevadas de sempre. Quanto mais sórdido mais pessoas viam a tv.
Já não se estranhava asrepetidas intrevistas ao superior herárquico da igreja católica . Como dezenas de outras, Geremias um acérrimo adversário de José Deixou bem claro numa delas: - A igreja apesar de ter quase a certeza que não é Deus que está com ele, está literalmente de mãos atadas. – O caminho não se resume a desacreditá-lo, mas sim divulgar com mais persistência, amor e muita fé a verdadeira palavra do senhor. O jornalista perguntou-lhe: - Se o senhor está tão convicto que o catolissismo é a verdadeira religião , o que entende quando os seus antigos fieis debandaram para a igreja do bispo José? - Nosso Deus e pai quando fez o homem fez-o e contemplou-o com ao liberdade de decidir por sua cabeça ; - portanto, e, sabendo que isso está inseparável da nossa condição , só nos resta convencê-los que só existe uma verdade, uma só palavra. Geremias estava cansado de intrevistas as quais respondia sempre da mesma maneira. No entanto , a esfomeada imprensa televisionada , sobretudo essa, não o deixava em paz . Embora o cadial Geremias lhe prometesse que tudo a igreja faria para o desmascarar , ela Sofia de Sousa Lorenço não era mulher de andar pelos cantos, facto que vinha acontecendo , mas que mudaria.
Por outro lado, o cardial desde que tinha recebido Sofia, e sua patente desilusão, deu início a uma verdadeira batalha religiosa. Entretanto , era mais uma vez preciso reunir todos os líderes cristãos, e duma vez por todas confrontar o diabo com a palavra de Deus. Por isso, após a conversa com a intristecida moça, de imediato convocou um simpósio onde se debateria qual a melhor forma de fazer frente ao anjo caído que atuava por meio de bispo José, outrora um vulgar telefonista.. Mais uma vez Geremias desdobrou-se em telefonemas , contatos importantes. Não houve congregação que recusasse a chamada, todos estavam a ser atingidos. Todavia, tempos depois e apesar de todos os esforços de todas as igrejas cristãs, tudo ficou na mesma. José através de seus sonhos tudo isso sabia. Não havia noite , descanso , ou um simples fechar de olhos que não lhe surgisse imagens do que ocorreria, o que ocorreu, e do que se ocorrera. Ele também vinha continuamente recebendo através dos sonhos uma imagem duma enigmática criança , que contrariamente as outras, não sabia o seu significado .Aquilo vinha-o intrigando. Mas como seu espírito não o ilucidava a esse respeito pensou ser um sonho normal como os das pessoas comuns.– No gigantesco portão automático , entrada principal de seu castelo , José reparou que havia movimetações anormais.Quando saiu já no interior , chegaram-se a ele vários colaboradores com a notícia que alguém o esperava . Tranquilo e ladeado por seus mais próximos , mal entrou na sala vestido de fato cinzento e com seu longo cabelo negro caído sobre os ombros ,deparou-se com Romeu e Geremias . – Meninas, por favor saiam eu quero ficar a sós – dirigiu-se as três lindas raparigas que faziam sala aos convidados. – Mas em que devo esta honra? Geremias pela primeira vez estava na presença de José. Romeu ficou estranho , seus movimentos eram lentos e sua boca não se abria, facto que o cardial achou estranho.Eles haviam combinado que mal ele aparecesse Romeu se levantaria e daria início ao exorcismo . – Vejo que trouxe um amigo – comentou José olhando Romeu que continuava mudo. Aquela situação começava a se tornar embaraçosa a geremias que teria de inventar uma desculpa rapidamente caso Romeu não agisse, e depressa. José sentou-se na frente de ambos. – Então que querem de minha pessoa – declarou com ar de quem sabia o motivo da visita .Geremias culpabilizou-se por ter vindo . – O motivo que me trouxe cá mais Romeu é … - é, verificar se eu sou mandado de Santanás , não é isso? Ele era mesmo vidente – constatou Geremias. Ficou claro que alguém o avisava de tudo. – E o que acha Cardial Geremias? José bateu as palmas e de súbito surgiram duas lindas raparigas de lindos vestidos brancos e de rosto divertido . – minhas lindas sirvam algo de beber aos meus ilustres convidados – disse-lhes José levantando-se e abraçando-as antes que saíssem . Como veem nesta casa o amor impera – comentou José abrindo os braços divertido .– Já dei por isso – retrocou Geremias mostrando repugnância . Ele parecia-lhe um bicho , um lindo bicho, mas um bicho! O a-vontade com que deambulava pela casa, o descaramento que falava das sagradas escrituras, e o desplante com que beijava as raparigas era demais para si. – Você não pode , ou melhor , não está ao serviço de Deus! Os olhos de José prenderam-se a ele. – Que disse? – Vamos Romeu – barafustou com o paralizado padre. – Eu não finjo castidade, eu não me escondo por detrás dum biombo dizendo: - estão perdoados teus pecados; - ou , depois de pagar uma bula pode comer carne! - Quem prevarica aqui senhorcardial? - Se souber diga-me por favor: - quem tem o poder de perdoar ospecados; - sou eu, é você, este velho padre – comentou segurando o ombro do atónito sacerdote . – Não seja hipócrita ; - perdoar é exclusividade de Deus! - Nós guiamo-nos pela palavra do senhor – replicou Geremias. – Pela o quê? – Pode me explicar o que foi erguido na cova de iria? - Não se meta com o santuário – gritou-lhe Geremias infurecendo-se. – Pois , na verdade te digo oh cardial Geremias; - lá onde o chão é manchado pelo sangue daqueles que se arrastam em busca de consolo para as suas almas , existe sim, uma latente farsa , o qual serve sobretudo para vos cobrir de riquezas! - Mas se isso só por si não fosse grave, vocês esconderam-se por detrás de três analfabetas crianças com um só intuito; -a criação dum santuário onde colocaram uma pedra esculpida com o dom de fazer milagres. – Vocês deviam fazer como as avestruzes , meterem vossas malévolas cabeças na areia! Ocorreram a sala todas as moças que o serviam, eles nunca haviam visto seu amo tão exaltado. – Eu não vou ouvir mais um filho do diabo falar – comentou Geremias pegando o velho Romeu pelo braço e encaminhando-se a saída. Antes de difinitivamente desaparecer, Geremias voltou-se e declarou : - O diabo em tempos foi um anjo de luz. José ficou ao centro e suas gargalhadas foram ainda ouvidas ppor Geremias já do lado de fora e quase chegando a seu carro . - Que te deu homem - perguntou ligando seu carro . Romeu abanou a cabeça. - Não sei , ele emanava uma energia estranha, não senti nada de maléfico vindo dele.
–
Nessa mesma noite , José voltou a sonhar com o bebé de olhos azuis e de cabelo dourado. Nesse sonho a criança chamava-o de papá , do seu lado viu Natália.
– acorda querida – disse-lhe ele abanando-a energicamente. – que foi amor - murmurou a linda moça . – não te cheira diferente ? A rapariga levantou ligeiramente a cabeça e cheirou . – não, ainda cheira a nós – afirmou com um ligeiro sorriso nos lábios. José voltou a inalar uma boa pulsão de ar pelas narinas. – bolas, cheira a talco ! - não te cheira? Quando olhou para a cama a moça já dormia de novo.Momentos depois na casa-de-banho, olhou-se ao espelho. Veio-lhe a mente o começo de tudo, e a noite que havia tido o sonho . Mirando-se com minúcia detetou algumas rugas nos cantos da boca e alguns cabelos brancos nas têmporas. – porque me alertaram para o nascimento ? – será meu Deus … José passou água no rosto. Talvez pela primeira vez vacilou . – será que estou a fazer a coisa certa? Sua cabeça subitamente começou a doer. Então resolveu-se por tomar um banho de água fria . Minutos mais tarde e mais tranquilo , bateram-lhe a porta do quarto. Era um de seus colaboradores. – bispo José , tem uma pessoa ao telefone . – vou já – disse-lhe . Depois do moço fechar a porta , ele sentou-se por momentos na beira da cama olhando a faustosa moça que dormia profundamente. Recordou-se de Sofia. – como será que ela está? Enquanto se vestia , lebrou-se da noite que a procurou. Em retrospetiva vieram-lhe a mente todos os detalhes daquela sumptuosa noite. Contudo,ele havia feito amor com ela mas com um obejtivo bem delineado, ou seja , algo lhedizia que ele teria de lhe fazer um filho.No entanto, quando saiu de sua casa, foi com a certeza que ela não poderia engravidar . Desde esse dia só mais uma vez a encontrou. Aliás foi Sofia que o procurou desejando entender o porquê daquela noite e porque ele simplesmente a abandonou. Lembrou-se de lhe ter dito; - os desígnios de Deus só a ele pertencem! – eu sou somente um mero escravo de suas vontades. Depois de se vestir José foi atender o telefone: - Estou, quem fala? – Bispo José ; - sim sou eu; - Só lhe liguei para o informar da morte do padre Romeu; - morreu durante a noite! - Paz para a sua alma – replicou José. – Sim, paz nós todos precisamos , não é? – uma insofismável verdade – retrocou. José constatou que cardial Geremias apresentava uma voz enfraquecida e um evidente desânimo. Então disse-lhe: - Não se deve combater os amigos, mas sim ficar de seu lado. Geremias ficou por momento em silêncio . – Mas a mim não se encacha o provérbio : - Se não os podes combater , junta-te a eles! José ouviu um clic ,sinal que ele havia desligado. Por segundos ficou de ar pensativo com o telefone na mão . Entretanto e,depois de velar o malogrado Romeu, que perante José limitou-se a contemplá-lo, Geremias reuniu todos os bispos do país era urgente uma saída. Vinha-se enfadando de tanta reunião.As propostas sucediam-se, mas ou eram arrojadas de mais, ou simplesmente inócuas . Nas suas costas, a revelia de tudo o quanto seria razoável, contra tudo o quanto acreditava, membros do clero preparavam a morte de José. Mais uma vez o desgastado cardial despensou a todos e viu-se de novo com uma mão cheia de nada, restando-lhe somente resar, resar muito por um milagre. - Era-lhe evidente que o senhor Jesus estava para breve, tudo que acontecia ele havia profetizado . Seus 86 anos e, quando pensava que teria um resto de vida tranquila, surge-lhe um telefonista armado em Deus. – oh meu Deus teu povo sempre se desviou de ti. – Mandaste teu filho e nós o matamos, porque somos fracos. Geremias baixou a cabeça e choramingou : – Por favor ooh Deus, se não sou digno de teu nome, que eu morra já. A luz do candeeiro que até então emanava uma claridade que ofuscava as vistas de repente diminuiu de intensidade. Geremias indagou com um olhar , não dando muito valor ao fenónimo. As portas do palacete ,subitamente deram em bater ferneticamente, assobiando como uma alcateia a lua , o vento percorria os corredores do edifício. Os raios de sol que penetravam pela vidraça da janela encarvoaram , rebombando os trovões estremeceram os alicerces do palacete . O cardial continuou resando ; – Oh senhor dos exércitos, senhor do ontem , do hoje, e de todo o sempre, absorve-me com teu espírito e guia-me na salvação de meu povo . Lá fora os raios cruzavam o firmamento em grande presteza , serpenteavam sobre o país , levando o medo de sul para norte. As gotas da chuva caíam como pedras num telhado, o céu cobriu-se de manto de viuva. Todavia o velho pastor que haviam roubado o rebanho, inebriava-se nas suas orações, e sua alma roçava as bainhas do paraízo. – Oh Deus sinto-me tão bem – murmurava de face resplandecente. – É tão bom sentir tua glória – sussurrava. – Cardial, oh senhor! Carlos entrou disparado porta dentro . Geremias continuava de cabeça inclinada. – Senhor! – Por favor acorde – barafustou. O rapaz estava em pânico, e atirou-se literalmente para os pés de seu amo. – Vamos todos morrer! No exterior o manto negro da tempestade persistia em aterrorizar opovo. Os rios em minutos galgaram as margens, as florestas ardiam descontroladamente , enquanto ao nação gritava por Deus.- Senhor que fazemos –rumorejou Carlos de rosto prostrado sobre os sapatos de seu amo e senhor. Mas Geremias não o escutava. Seus lábios movimentavam-se ligeiramente, da sua boca saía frases em latim, seu espírito estava em comunicação com o divino. – Eis que o dia está próximo – ouviu ele intimamente . – Tudo que vedes, tudo o que assistides, é uma ínfima parte do que se sucederá nos dias da vinda de meu filho. – Apronta tua igreja, limpa suas almas consporcadas , e vem, vem a mim que eu te chamarei de meu filho. – Mas senhor que fazemos com santanás? – abre os olhos Geremias e vede ; - Que vês tu? Geremias fez o que a voz lhe ordenou. – Vejo senhor um rio de águas cristalinas, e os peixes saltam alegremente no seu ceio. – Vejo também junto das margens verdejantes, lobos pastando amigavelmente do lado de ovelhas e cabritos. – Nos céus vejo anjos coloridos como pássaros.– Senhor e santanás? – Então não ouviste minha palavra? – Que viste e ouviste da boca de meu filho? – Não sou eu o mesmo Deus , que criou o homem? – Eis que te digo hoje, o começo das atribulações começou , todavia, passarão muitos anos até que meu filho julgue todos por seus atos contra minha palavra. – Naquele dia e, como está escrito, pedirão vocês que as montanhas desabem sobre vossas cabeças. – São dias de dor e ranger de dentes, ai das mulheres que amammentem . – Aí sim, santanás e sua tropa se servirá a seu belo prazer, mas antes, eu arrebatarei minha congregação. – Contudo, ainda se salvarão, dentro dos que ficarem, porque eu sou, fui, e serei teu Deus. – Glória o teu nome senhor. – Senhor? Geremias abriu os olhos e deparou-se com o rosto de Carlos olhando-o com estupefação . – Tão depressa veio como foi – declarou seu secretário. Geremias sorriu-lhe. – Porque sorri senhor? – Porque te amo, porque meu Deus é sublime, e porque sei que ele está vivo e nos ama! – Não achas que é motivo suficiente? Carlos olhou-o e exclamou ; - Um bom motivo sim senhor .
O temporal intrigou José. Não havia previsto a intempérie que deixou a população em alvoroço. Que havia falhado? Entretanto havia muito que anuciar. que prosseguir o caminho que Deus lhe havia mostrado.
Como sempre escolheu uma colina para pregar. A multidão o aguardava impaciente no inóspito monte nas cercanias da grande cidade. Havia choro de crianças, velhos, menos velhos, jovens e imaturas moças se acotovelando para ver, ouvir aquele que vinha fazendo milagres no nome de Deus. Nos limítrofes do ajuntamento, barracas de comes e bebes vendiam seus produtos e iguarias. Não muito longe prostitutas refugiadas pelas oliveiras que ladeavam os caminhos faziam seu trabalho, os proxenetas esperavam tranquilamente dentro de seus carros que tudo fosse conforme o combinado.
Vestidos de roupas sujas, cabelos sebosos, dentes podres, havia também, quem vendesse breves sonhos num grama de cocaína. Era o mundo real o mundo que José imbuído na pregação sabia existir, porém nada fazia. Vestido de túnica branca, cabelo negro ao vento da tarde, debaixo dum sol resplandecente, um céu azul deslumbrante gritou a população que berrava seu nome como estivessem num conserto de rock. – José, José, és nosso rei, és não és? Não muito longe uma prostituta simulava prazer de joelhos, num tasco, eram vendidas bifanas de carne de quarta, entre o povo carteiristas lutavam pela vida, bêbados jogavam ao soco por detrás das barracas dos tirinhos. – Olha a grande bradava o cauteleiro entre todos. No palco que se ergueu no local pelos colaboradores de José, de microfone na mão, o bispo ungido, clama; - Eu em tempos fui um mero trabalhador, um funcionário público. – Hoje quero-vos falar do que é ser subjugado por políticas de escravidão. – Não podemos ser todos patrões, contudo podemos todos ser irmãos no emprego! - Não aceitem ser subjugados por homens ou mulheres que além de cifrões, mais nada tem na mente. – São esses que transformam nosso mundo na podridão que vemos e não gostamos. – Lutem contra a vassalagem! – E vós mulheres, lutem contra a alteridade masculina, e sejam vocês mesmas, belas, magnificentes nos gestos e ideias. – Não permitam que vossos filhos se deem a práticas sórdidas, nomeadamente; - drogas, auto-flagelação, ou assassinato. – Não se preocupem se amam pessoas do mesmo sexo, porque quem julga é porque já foi julgado! – Não se preocupem se de vós falam mal e escarneiam, porque esses que o fazem, vos digo, já estão arredados da sociedade. – Mas façam uma coisa, amem, amem sem tabus, porque só assim, faz sentido a carne, pois é a simbiose perfeita entre o espírito e o sangue. – Não fujam da face de vosso senhor porque praticaram algo destas coisas que acabei de enumerar. – Vosso senhor fechará os olhos se pedirdes perdão. – Poderão alguns de vós perguntar; - ele era um desgraçado, e de repente ficou santificado. – Só pode ser bruxedo! - Eu mesmo não procurei ser o que sou, confesso-vos. – No entanto, já que tive esse privilégio, é para vós que clamo neste monte, amem, por favor amem! - José, José, gritava o povo. –
Tarde quase noite, grandes holo fotos foram ligados mal o sol se escondeu por detrás do monte. Ninguém arredava pé. Na tenda de José a azáfama era enorme. Suas meninas , mulheres, concumbinas, amores, desdobravam-se para o satesfazer. No exterior o povo estava contente, ainda aguardavam grandes prodígios como ele lhes dissera que haveria . José retirou-se para resar .
A conversa foi esclarecedora entre as duas antigas paixões de José, ao ponto de afirmar com certeza absoluta que não era ela quem ele amava.
Sofia compadeceu-se
Por Natália, afinal era mãe dum lindo menino que poucos sabiam que existia!Por favor não lhe contes, pediu ao quando de despedir-se de Sofia. Se o poderes ajudar, pelo menos faz por este menino, acrescentou de lágrimas nos olhos.
As boas novas tardavam a surgir. José foi encontrado prostrado no canto que escolhera para orar tranquilamente. Oouviam-se gritos de frustração do lado de fora. Como é oh José, sabes tudo não é?Se sabes coloca-te de pé oh Zé!Foi chamado um médico a grande tenda. O milagroso desmaiara e demorava a vir a si. Após alguns minutos de pânico, todos respiraram fundo por fim. O bispo estava vivo! Graças a Deus gritou-se na tenda. As recomendações eram para descançar , contudo José quis porque quis pregar a população.Ainda um pouco titubeante decidido subiu ao palco. A multidão vislumbrou algo de diferente nele.Desaparecera o sorriso, seus olhos e rosto perderam o brilho. Baixou a cabeça e ajoelhando-se disse: Obrigado senhor por me mostrares o caminho certo, o teu, oh pai. Que se passa com ele, murmurou-se entre o povo. Depois de dar graças a Deus ergueu-se novamente e ficou olhando o mar de gente que o olhava. Porque me olhais?Porque vindes cá, não vedes que eu sou o mais insignificante dos homens?Olha, pirou, gritou um junto do palanque.Hoje, a minutos atrás, Deus mostrou-me a estrada que me levará a ele, a verdadeira!Sim, é como vedes e olvides. Enganei-vos durante todo este tempo, fui capturado pelo mal e transformado em seu escravo. Todos os prodígios, milagres, adivinhações é obra do príncipe das trevas! Perdoem-me, por vos indicar os caminhos de Satanás. Tudo que vos disse para seguirem, não sigam! Tudo o que vos disse que era certo, não o é!Não passo dum homem, um pobre homem, um simples e pacato telefonista. Este bandido enganou-nos!Charlatão! De repente os que o aplaudiram, apupavam-no. Vai-te embora coisa nojenta. Não passas dum troca tintas! De súbito a multidão revoltou-se e os órgãos de comunicação social que estavam em directo, assistiram a uma massa humana pprecipitar-se rumo ao palco. Os membros da segurança não eram suficientes para suster tanta gente em fúria. José, José! Uma voz destinguia-se entre a multidão raivosa. É o fim, murmurou José prostrando-se. Alguém tocou seu ombro dizendo-lhe: Levanta-te porque eu amo-te!Sofia? Quando José ergueu a cabeça Sofia sorria-lhe. Meu Deus, obrigado, bradou levantando as mãos ao céu. Não há tempo para mais agradecimentos, disse-lhe ela puxando com força para fora do palco. Eles matam-te!Por pouco não foram apanhados pela multidão enraivecida. Não fora alguns seguranças mais destimidos, José certamente teria sido trucidado.Nos dias que se seguiram, o país assistiu a uma verdadeira caça ao homem. Escondido nas montanhas, resguardado por alguém muito querido, José reflectiu em tudo o que acontecera e tomando a decisão de se entregar, entregou-se na esquadra mais próxima do refúgio.Nessa noite, quando o silêncio era quase palpável, dormitando José foi acordado por um sorriso. Abriu os olhos e constatou que junto das grades da sela, havia um homem que o olhava satisfeito. Quem é você, perguntou-lhe levantando-se. Era de rosto bem-delineado, e seus olhos negros tinham um brilho estranho. De imediato José lembrou-se dum dos seus pesadelos. És tu, exclamou. Foste quase perfeito, disse-lhe. Todavia, como és obra imperfeita, falhaste! Fui salvo por Deus, retrocou José com firmeza. Não me assustas, vivi contigo anos!Fazíamos uma boa parelha, não achas? Dei-te tudo que os humanos mais querem. Dei-te ouro, prata, sexo, muito sexo! Que melhor pode haver?O caminho do senhor, respondeu-lhe José fitando-o nos olhos. Satanás sorriu-lhe e exclamou: Que pena, que pena, podíamos continuar mais um pouco! Então liberto-te , acrescentou. Não. Não me libertas porque Deus já o fez! Muito bem, muito bem, exclamou Satanás. Dizendo isso desapareceu.
Então vos declaro marido e mulher. Podem-se beijar, disse-lhes o padre. José subiu o véu que tapava o rosto de sua amada e disse: Sofia, minha mulher amada eu amo-te com todas as minhas forças.
Entre os que assistiam na igreja, uma criança de cabeloloiro e de olhos verdes, sentado ao colo duma linda mulher,gritou: Papá, papá! Os recém-casados olharam-no e sorriram na sua direcção.
Fim.
Roberto c r marcos